terça-feira, 22 de junho de 2010

QUEM É DIDIER DROGBA?

Quem é Didier Drogba?

Por Dennis de Oliveira [Terça-Feira, 22 de Junho de 2010 às 13:15hs]

Didier Drogba foi xingado pelo técnico Dunga, logo após a partida vencida pela seleção brasileira - o técnico brasileiro disse "Drogba de merda". No início do jogo, foi pisado na mão de forma desleal pelo zagueiro Lúcio - desleal porque todos sabem que o jogador marfinense estava contundido na mão. Em todo momento da partida tensa, tentou apaziguar os ânimos. No final da partida, foi cumprimentar os jogadores brasileiros. Declarou à imprensa que a seleção brasileira mereceu a vitória e que faltou futebol para o seu time.

Drogba foi um campeão da serenidade, infelizmente ofuscado pelo ufanismo nacionalista e postura preconceituosa e racista de parcela considerável da mídia brasileira que não admite enfrentamento aos jogadores brasileiros por parte de oponentes do Terceiro Mundo - daí a raiva expressa contra os times sul-americanos, principalmente a Argentina - e uma certa veneração aos europeus. Ouvi o comentarista Caio, da Globo, dizer que a "Itália não pode ficar de fora", logo após o vexaminoso empate do "campeão do mundo" com a poderosa Nova Zelândia em 1 a 1.

Mas porque Drogba teve este comportamento? Algumas informações:

- Didier Drogba lançou, junto com Koffi Anan, oGuia Alternativo da Copa do Mundo, em que analisa as diferenças sociais e econômicas dos países que disputam o Mundial e apresenta propostas de como as relações podem ser mais equilibradas na política internacional (veja abaixo a apresentação em português) - para ter acesso ao guia, clique aqui.

- Didier Droga, junto com o franco-argelino Zidane, embaixadores do Programa da Boa Vontade do PNUD/ONU, lançaram um spot de TV chamando todos para o combate a pobreza. Diz Drogba: "Não pode haver espectadores na luta contra a pobreza. Nós todos precisamos estar em campo para melhorar a vida de milhões de pessoas pobres no mundo". Para ver o spot, clique aqui.

- Didier Drogba mantém uma série de projetos sociais de atendimento a crianças na Costa do Marfim e na África, participa de campanhas para erradicação da malária no continente africano. Veja no site oficial de Drogba, clicando aqui.

Enquanto isto, Kaká, o jogador que se colocou como vítima do último jogo e vem sendo tratado como tal pela mídia brasileira, prefere ajudar uma organização criminosa que se traveste de religião e cujos líderes foram presos nos Estados Unidos.

Saudades do Pelé que, pelo menos, dedicou seu milésimo gol às crianças pobres do Brasil. Parece pouco, mas muito mais sensibilidade social que o atual camisa dez da seleção tinha. Sem contar que muito - mas MUITO - mais futebol.

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Íntegra da apresentação assinada por Drogba e Koffi Annan do Guia Alternativo da Copa do Mundo
"Bilhões de pessoas estão animadas com a Copa do Mundo. Assim também nós - e não apenas porque os nossos dois países estão disputando com força este torneio. Os jogos são uma vasta tapeçaria de cores, ruídos, talento, a competitividade e o suspense desportivos, e o drama humano, dentro e fora do campo. Acima de tudo, eles são torcedores.

Vai ser divertido para as equipes e espectadores do mundo inteiro, assistir ou ouvir ao vivo, a partir de cafés, bares, salas, telas e rádios públicas , no centro e nos cantos mais remotos da terra.

A Copa do Mundo unifica o planeta de forma mais eficaz do que qualquer tratado ou convenção. Ela afirma nossa humanidade comum, num momento em que as notícias parecem mostrar o oposto. Por um momento, podemos colocar de lado, as catástrofes e as guerras, o preconceito e a intolerância. O esporte, como a música, derruba barreiras, questionando os estereótipos. Deixa-nos dançando e celebrando.

A diversidade de equipes, e os países que eles representam, é o que faz da Copa do Mundo um evento tão grande. As muitas diferenças entre eles pouco importa uma vez que o jogo iniciado. Mas enquanto cada equipe representa as aspirações de milhões de seus concidadãos, cada um enfrentou caminhos diferentes para chegar lá.

O objetivo deste guia é para ilustrar um aspecto destas jornadas - as circunstâncias extremamente diferentes das equipes africanas e dos países que as irão enfrentar - em termos de seu desenvolvimento e das relações entre as nações. Como mostra este guia, alguns países são relativamente ricos, outros pobres. Eles enfrentam desafios comuns, e lutam contra problemas comuns que unem ambos, mas os dividem.

Temos visto uma e outra vez como o esporte pode ajudar a superar os conflitos mais profundamente enraizados e tensões dentro dos países. Aqui na África do Sul, o Rugby World Cup 1995 ajudou a unificar o país e curar as cicatrizes profundas do passado. Nosso sonho é que o desporto pode ajudar a preencher as lacunas e superar as diferenças entre nações e mesmo continentes.

O fato é que muitos países africanos e os países em desenvolvimento ainda estão em grande desvantagem. Eles não são considerados aptos a competir internacionalmente em condições de igualdade, com um árbitro imparcial e um conjunto claro de regras e regulamentos acordados. Longe disso, na verdade, eles estão sendo penalizados. O que seria um escândalo no mundo do futebol ainda é comum na sociedade das nações.

Estes países não são responsáveis pelas alterações climáticas, mas estão sofrendo seus piores efeitos, tornando a vida muito mais difícil, insalubre e perigosa para milhões de pessoas. As regras globais de comércio, tecnologia, finanças, migração e os direitos autorais tornam os planos de crescimento das suas economias e de luta contra a pobreza, de certificar-se que todos tenham o suficiente para comer e um atendimento decente de saúde muito mais difícil.

Como resultado de regras abusivas, as metas do Plano de Desenvolvimento do Milênio é uma busca muito mais difícil que deveria ser. Jogadores e torcedores, seja de Midrand, Manila, Manchester ou Montevideo, todos compreendem a importância do fair play e de um árbitro imparcial.

Nós acreditamos fervorosamente que este entendimento não deve ser limitado para os países na forma de jogar, correr e marcar gols uns contra os outros, mas também a maneira como fazem negócios e política uns com os outros, que o espírito da Copa do Mundo deve se estender nas relações políticas e econômicas entre os países,que a celebração de nossa humanidade comum não deve ser limitada a um mês a cada quatro anos.

Neste espírito, nós esperamos que este guia irá, de forma modesta, alertá-lo para uma outra dimensão da Copa do Mundo, e talvez torná-lo mais fácil para canalizar a boa vontade que ela representa para construir um mundo mais justo."

Dennis de Oliveira

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