terça-feira, 22 de junho de 2010

QUEM É DIDIER DROGBA?

Quem é Didier Drogba?

Por Dennis de Oliveira [Terça-Feira, 22 de Junho de 2010 às 13:15hs]

Didier Drogba foi xingado pelo técnico Dunga, logo após a partida vencida pela seleção brasileira - o técnico brasileiro disse "Drogba de merda". No início do jogo, foi pisado na mão de forma desleal pelo zagueiro Lúcio - desleal porque todos sabem que o jogador marfinense estava contundido na mão. Em todo momento da partida tensa, tentou apaziguar os ânimos. No final da partida, foi cumprimentar os jogadores brasileiros. Declarou à imprensa que a seleção brasileira mereceu a vitória e que faltou futebol para o seu time.

Drogba foi um campeão da serenidade, infelizmente ofuscado pelo ufanismo nacionalista e postura preconceituosa e racista de parcela considerável da mídia brasileira que não admite enfrentamento aos jogadores brasileiros por parte de oponentes do Terceiro Mundo - daí a raiva expressa contra os times sul-americanos, principalmente a Argentina - e uma certa veneração aos europeus. Ouvi o comentarista Caio, da Globo, dizer que a "Itália não pode ficar de fora", logo após o vexaminoso empate do "campeão do mundo" com a poderosa Nova Zelândia em 1 a 1.

Mas porque Drogba teve este comportamento? Algumas informações:

- Didier Drogba lançou, junto com Koffi Anan, oGuia Alternativo da Copa do Mundo, em que analisa as diferenças sociais e econômicas dos países que disputam o Mundial e apresenta propostas de como as relações podem ser mais equilibradas na política internacional (veja abaixo a apresentação em português) - para ter acesso ao guia, clique aqui.

- Didier Droga, junto com o franco-argelino Zidane, embaixadores do Programa da Boa Vontade do PNUD/ONU, lançaram um spot de TV chamando todos para o combate a pobreza. Diz Drogba: "Não pode haver espectadores na luta contra a pobreza. Nós todos precisamos estar em campo para melhorar a vida de milhões de pessoas pobres no mundo". Para ver o spot, clique aqui.

- Didier Drogba mantém uma série de projetos sociais de atendimento a crianças na Costa do Marfim e na África, participa de campanhas para erradicação da malária no continente africano. Veja no site oficial de Drogba, clicando aqui.

Enquanto isto, Kaká, o jogador que se colocou como vítima do último jogo e vem sendo tratado como tal pela mídia brasileira, prefere ajudar uma organização criminosa que se traveste de religião e cujos líderes foram presos nos Estados Unidos.

Saudades do Pelé que, pelo menos, dedicou seu milésimo gol às crianças pobres do Brasil. Parece pouco, mas muito mais sensibilidade social que o atual camisa dez da seleção tinha. Sem contar que muito - mas MUITO - mais futebol.

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Íntegra da apresentação assinada por Drogba e Koffi Annan do Guia Alternativo da Copa do Mundo
"Bilhões de pessoas estão animadas com a Copa do Mundo. Assim também nós - e não apenas porque os nossos dois países estão disputando com força este torneio. Os jogos são uma vasta tapeçaria de cores, ruídos, talento, a competitividade e o suspense desportivos, e o drama humano, dentro e fora do campo. Acima de tudo, eles são torcedores.

Vai ser divertido para as equipes e espectadores do mundo inteiro, assistir ou ouvir ao vivo, a partir de cafés, bares, salas, telas e rádios públicas , no centro e nos cantos mais remotos da terra.

A Copa do Mundo unifica o planeta de forma mais eficaz do que qualquer tratado ou convenção. Ela afirma nossa humanidade comum, num momento em que as notícias parecem mostrar o oposto. Por um momento, podemos colocar de lado, as catástrofes e as guerras, o preconceito e a intolerância. O esporte, como a música, derruba barreiras, questionando os estereótipos. Deixa-nos dançando e celebrando.

A diversidade de equipes, e os países que eles representam, é o que faz da Copa do Mundo um evento tão grande. As muitas diferenças entre eles pouco importa uma vez que o jogo iniciado. Mas enquanto cada equipe representa as aspirações de milhões de seus concidadãos, cada um enfrentou caminhos diferentes para chegar lá.

O objetivo deste guia é para ilustrar um aspecto destas jornadas - as circunstâncias extremamente diferentes das equipes africanas e dos países que as irão enfrentar - em termos de seu desenvolvimento e das relações entre as nações. Como mostra este guia, alguns países são relativamente ricos, outros pobres. Eles enfrentam desafios comuns, e lutam contra problemas comuns que unem ambos, mas os dividem.

Temos visto uma e outra vez como o esporte pode ajudar a superar os conflitos mais profundamente enraizados e tensões dentro dos países. Aqui na África do Sul, o Rugby World Cup 1995 ajudou a unificar o país e curar as cicatrizes profundas do passado. Nosso sonho é que o desporto pode ajudar a preencher as lacunas e superar as diferenças entre nações e mesmo continentes.

O fato é que muitos países africanos e os países em desenvolvimento ainda estão em grande desvantagem. Eles não são considerados aptos a competir internacionalmente em condições de igualdade, com um árbitro imparcial e um conjunto claro de regras e regulamentos acordados. Longe disso, na verdade, eles estão sendo penalizados. O que seria um escândalo no mundo do futebol ainda é comum na sociedade das nações.

Estes países não são responsáveis pelas alterações climáticas, mas estão sofrendo seus piores efeitos, tornando a vida muito mais difícil, insalubre e perigosa para milhões de pessoas. As regras globais de comércio, tecnologia, finanças, migração e os direitos autorais tornam os planos de crescimento das suas economias e de luta contra a pobreza, de certificar-se que todos tenham o suficiente para comer e um atendimento decente de saúde muito mais difícil.

Como resultado de regras abusivas, as metas do Plano de Desenvolvimento do Milênio é uma busca muito mais difícil que deveria ser. Jogadores e torcedores, seja de Midrand, Manila, Manchester ou Montevideo, todos compreendem a importância do fair play e de um árbitro imparcial.

Nós acreditamos fervorosamente que este entendimento não deve ser limitado para os países na forma de jogar, correr e marcar gols uns contra os outros, mas também a maneira como fazem negócios e política uns com os outros, que o espírito da Copa do Mundo deve se estender nas relações políticas e econômicas entre os países,que a celebração de nossa humanidade comum não deve ser limitada a um mês a cada quatro anos.

Neste espírito, nós esperamos que este guia irá, de forma modesta, alertá-lo para uma outra dimensão da Copa do Mundo, e talvez torná-lo mais fácil para canalizar a boa vontade que ela representa para construir um mundo mais justo."

Dennis de Oliveira

CARTA DE FREI BETO A UM AMIGO PETISTA

TERÇA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2010

Carta de Frei Betto a um amigo petista



Meu caro: sua carta me chegou com sabor de velhos tempos, pelo correio, em envelope selado e papel sem pauta, no qual você descreve, em boa caligrafia, a confusão política que o atormenta.

Pressinto quão sofrido é para você ver o seu partido refém de velhas raposas da política brasileira, com o risco de ser definitivamente tragado, como Jonas, pela baleia... Sem a sorte de sair vivo do outro lado.

A política é a arte do improviso e do imprevisto. E como ensina Maquiavel, trafega na esfera do possível. O sábio italiano foi mais longe: eximiu a política de qualquer virtude e livrou-a de preceitos religiosos e princípios éticos. Deslocou-a do conceito tomista de promoção do bem comum para o pragmatismo que rege seus atores – a luta pelo poder.

Você deve ter visto o célebre filme "O anjo azul" (1930), que imortalizou a atriz Marlene Dietrich e foi dirigido por Joseph von Stemberg e baseado no livro de Heinrich Mann, irmão de Thomas Mann. É a história de uma louca paixão, a do severo professor Unrat (Emil Jannings) por Lola-Lola, dançarina de cabaré. Ele tanta aspira ao amor dela, que acaba por submeter-se às mais ridículas e degradantes situações. Torna-se o bobo da corte. Nem a cortesã o respeita. Então, cai em si e procura voltar a ser o que já não é. Em vão.

Me pergunto se o PT voltará, algum dia, a ser fiel a seus princípios e documentos de origem. Hoje, ele luta por governabilidade ou empregabilidade de seus correligionários? É movido pela ânsia de construir um novo Brasil ou pelo projeto de poder? Como o professor de "O anjo azul", a paixão pelo poder não teria lhe turvado a visão?

Você se pergunta em sua carta "onde o socialismo apregoado nos primórdios do PT? Onde os núcleos de base que o legitimavam como autorizado porta-voz dos pobres? Onde o orgulho de não contar, entre seus quadros, com ninguém suspeito de corrupção, maracutaias ou nepotismo?".

Nunca fui filiado a nenhum partido, como você bem sabe e muitos ignoram. É verdade que ajudei a construir o PT, mobilizei Brasil afora as Comunidades Eclesiais de Base e a Pastoral Operária, participei de seus cursos de formação no Instituto Cajamar e de seus anteparos, como a Anampos e o Movimento Fé e Política.

Prefeitos e governadores eleitos pelo PT me acenaram com convites para ocupar cargos voltados às políticas sociais. Tapei os ouvidos ao canto das sereias. Até que Lula, eleito presidente, me convocou para o Fome Zero. Aceitei por se destinar aos mais pobres entre os pobres: os famintos.

O governo que criou o Fome Zero decidiu por sua morte prematura e deu lugar ao Bolsa Família. Trocou-se um programa emancipatório por outro compensatório. Peguei o meu boné e voltei a ser um feliz ING, Indivíduo Não Governamental. Tudo isso narrei em detalhes em dois livros da editora Rocco, "A mosca azul" e "Calendário do Poder".

Amigo, não o aconselho a deixar o PT. Não se muda um país vivendo fora dele. O mesmo vale para igreja ou partido. Há no PT muitos militantes íntegros, fiéis a seus princípios fundadores e dispostos a lutar por uma nova hegemonia na direção do partido.

Ainda que você não engula essas alianças que qualifica de "espúrias", sugiro que prossiga no partido e vote em seus candidatos ou nos candidatos da coligação. Mas exija deles compromissos públicos. Lute, expresse sua opinião, faça o seu protesto, revele sua indignação. Não se sujeite à condição de vaca de presépio ou peça de rebanho.

Se sua consciência o exigir, se insiste, como diz, em preservar sua "coerência ideológica", então busque outro caminho. Nenhum ser humano deve trair a si próprio. Quando o faz, perde o respeito a si mesmo, como o professor de "O anjo azul". Mas lembre-se de que uma esquerda fragmentada só favorece o fortalecimento da direita.

A história não tem donos. Muito menos os processos libertadores. Tem, sim, protagonistas que não se deixam seduzir pelas benesses do inimigo, cooptar por mordomias, corromper-se por dinheiro ou função. Nunca confunda alianças táticas com as estratégicas. Ajude o PT a recuperar sua credibilidade ética e a voltar a ser expressão política dos movimentos sociais que congregam os mais pobres e as bandeiras que exigem reformas estruturais no Brasil.

Lembre-se: para fazer a omelete é preciso quebrar os ovos. Mas não se exige sujar as mãos.

Frei Betto é escritor, religioso católico, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco), entre outros livros; www.freibetto.org – twitter - @freibetto


Pescado do portal Pátria Latina

Foto: O severo professor Unrat sonhando com a dançarina Lola-Lola, em plena sala de aula, em cena de O Anjo Azul.

PROGRAMAÇÃO DA SEMANA DE PELOTAS

Confira a programação completa da Semana de Pelotas com destaque para o Festival de Jazz que entre outros tem o amigo Celso Krause com Hermeto:
Dia 1º de julho – Quinta-feira
8h30min – Encontro Jesus, Rei dos Reis, Pelotas te oferece louvor e adoração – Promoção da Associação dos Pastores Evangélicos de Pelotas. Local.: Paço Municipal;
15h30min – Educação Patrimonial: Acervo de Alexandre Cassiano do Nascimento. Promoção do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas (IHGPel). Local.: Colégio Estadual Cassiano do Nascimento;
18h30min – Novena do Centenário da Diocese de Pelotas, na Catedral São Francisco de Paula;
19h – Abertura da Exposição denominada “Procurados”, na Sala de Exposições Frederico Trebbi, no hall do Paço Municipal;
20h – Abertura da Exposição denominada “Chile, Terra Mapuche”, no Centro Cultural Adail Bento Costa. Promoção da Secult;
20h – Festival de Jazz com Gilberto Oliveira e Hugo Faltoruso, no Theatro Guarany. Promoção da Prefeitura Municipal e Sesc.

Dia 2 de julho – Sexta-Feira

9h – Seminário “A hidrografia do Brasil”, numa promoção do IHGPel, no Instituto Espírita Lar de Jesus;
14h às 17h – Brincando na Comunidade. Promoção da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer (STE), no Parque da Baronesa;
14h30min – A Preponderância da influência Luso-Açoriana sobre a influência Hispânica no uso de adágios pela população de Pelotas. Promovido pelo IHGPel, na Escola Santa Mônica;
18h30min – Novena do Centenário da Diocese de Pelotas, na Catedral São Francisco de Paula;
20h – Prêmio 300 Onças, numa promoção do Instituto João Simões Lopes Neto, no próprio Instituto;
20h – Festival de Jazz – Grupo Quebraceira e Geraldo Flach e Quinteto, no Theatro Guarany. Promoção da Prefeitura Municipal e Sesc.



Dia 3 de julho – Sábado
2h – Espetáculo teatral denominado “O gato malhado e a andorinha Sinhá – uma história de amor”, no Centro Cultural Casa do Joaquim. Promoção do Centro Cultural Casa do Joaquim;
8h às 16h – Curso Básico de Dança Sênior, no Colégio Sinodal Alfredo Simon. Promoção do Sínodo Sul-Riograndense;
16h – Projeto Fazendo Música no Museu – Recital de violão e flauta com Maurício Mendonça e Gil Soares, no Museu da Baronesa. Promoção: Secult/Baronesa;
18h30min - Novena do Centenário da Diocese de Pelotas na Catedral São Francisco de Paula;
20h – Festival de Jazz com Celso Krause e Hermeto Pascoal. Promoção da Prefeitura e Sesc, no Theatro Guarany.

Dia 4 de julho – Domingo

8h às 16h – Curso Básico de Dança Sênior. Promoção do Sínodo Sul Riograndense, na Escola Sinodal Alfredo Simon;
14h – Procissão com a imagem de São Francisco de Paula, numa promoção da própria Catedral; saída em frente ao Paço Municipal;
15h30min – Solene Celebração Eucarística, na Catedral São Francisco de Paula;
18h – Espetáculo teatral denominado “O gato malhado e a andorinha Sinhá – uma história de amor”, tendo por local o Centro Cultural Casa do Joaquim. Promoção do Centro Cultural Casa do Joaquim;

Dia 5 de julho – Segunda-Feira
15h – Sarau literário-cultural numa promoção do Centro Literário Pelotense (CLIPE), realizado no Espaço Cultural Sal & Açucar, localizado na rua Pinto Martins, 774;
18h15min – Educação Patrimonial: Acervo Alexandre Cassiano do Nascimento, tendo por local o Auditório da Casa dos Conselhos, situado à rua Três de Maio, 1.060. Promoção do IHGPel;
18h30min – Sete ao Entardecer com Xana Galo. Promoção do Theatro Sete de Abril, na Fábrica Cultural;
18h45min – Um Estudo sobre o Brasão de Pelotas, promoção do IHGPel, no auditório da Casa dos Conselhos;
19h – Oficina de Argila promovida pelo Centro Cultural Casa do Joaquim, no próprio Centro;
20h30min – Coquetel de abertura do 44º Congresso da Associação Rio Grandense de Técnicos em Administração Fazendária Municipal (Artafam), no Centro Português 1º de Dezembro. Sede Central. Realização: Artafam

Dia 6 de julho – Terça-Feira
11h – Lançamento da Logomarca Comemorativa dos 45 anos do Sanep, promoção da autarquia, no prédio do Sanep;
14h – Blitz de Conscientização para o Turismo, promoção da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer (STE), em frente ao Theatro Sete de Abril;
17h – Lançamento dos anais do Projeto Sul do Sul, promovido pela Casa dos Açores, no Salão Nobre do Paço Municipal,
20h – Sessão Magna da Maçonaria, promovida pela Loja Fraternidade, na própria loja;
20h – Show Musical: Landa Ciccone numa promoção do Centro Cultural Casa do Joaquim, o local.

Dia 07 de julho – Quarta-Feira

9h – Cerimônia Alusiva ao Aniversário do Município. Promoção da Liga de Defesa Nacional, em frente ao Paço Municipal;
13h30min às 18h30min – 1º Encontro Regional da Qualidade para a Gestão Pública, no auditório D. Antônio Zattera (UCPel). Promoção da Prefeitura Municipal e PGQP/RS;
15h às 19h – Maratona de Xadrez, no Centro Cultural Casa do Joaquim;;
15h30min – Entrega de prêmios aos classificados no Concurso Literário “Histórias do Meu Laranjal”, no Bistrô do Centro Cultural Adail Bento Costa. Promoção da Secult e Instituto Nacional Senador Joaquim Augusto Assumpção (Inbraja);
16h – Abertura da exposição de pinturas, desenhos e objetos com a temática “Pelotas” (até 30 de julho). Promoção do Ateliê Giane Casaretto, situado à rua XV de Novembro, 871,
19h às 22h – Matinê do Joaquim “Para espantar o frio”. Promoção do próprio Centro Cultural;
20h – Sessão Solene da Câmara de Vereadores de Pelotas, o prédio da Câmara, na rua XV de Novembro, 207.

Programação Continuada
- 44º Congresso da Artafam – de 5 a 9 de julho, das 8h30min às 17h30min, no auditório D. Antônio Zattera – UCPel;
- Secult – Exposições permanentes de 2 a 31 de julho
Exposição “Procurados”da Artista Visual Daniele Silva, na Sala de Exposições Frederico Trebbi;
- Museu da Baronesa – Visitação à Exposição “Restauração dos Leques da Coleção Adail Bento Costa”;
- Sanep – Visita dos mascotes da autarquia, “Gotão” e “Coletinha”, nas escolas de ensino fundamental da cidade, com atividades de educação ambiental, nos dias 01, 02, 05, 06 e 07 de julho;
- Centro Cultural Casa do Joaquim – Ateliê aberto+arremesso de stickers - Eli Golande – Arte Urbana, de 1º a 07 de julho, a partir das 14h;
- Ateliê Agência de Arte – Exposição fotográfica selecionada a partir do livro “Fotos contam uma história de Portugal em Pelotas”, de autoria de Rejane Botelho. De 5 a 9 de julho, das 14h às 17h, no Ateliê Agência de Arte, na rua Padre Anchieta, 3.051.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

DESMOND TUTU, O FUTEBOL E OUTRAS POSSIBILIDADES

Folha - A Copa do Mundo pode ajudar a melhorar as relações raciais na África do Sul?

Desmond Tutu - O torneio deu aos sul-africanos um espírito de unidade e nos lembra de que juntos somos uma força a ser reconhecida. Eu sempre me maravilhei com a linguagem universal do futebol, um esporte que não precisa de tradução. Se conseguimos ficar unidos pela Copa do Mundo, conseguiremos ficar unidos em todos os desafios que encontrarmos. Não é preciso ter a mesma opinião sobre tudo, mas podemos discordar amigavelmente, respeitando a dignidade do outro.


O futebol pode fazer as pessoas se sentirem sul-africanas em primeiro lugar, deixando a identidade racial em segundo plano?

O esporte tem a habilidade de unir as pessoas, cortando barreiras de classe, raça e origem. Eu tenho dito que não é possível viver apenas do pão. Há coisas que levantam o espírito. Você precisa desses momentos na vida. Momentos que dão uma visão do que você pode ser. A Copa do Mundo é um grande feito não apenas para a África do Sul mas também para todo o continente africano. Durante este mês, o foco do mundo estará aqui. Conquistar o direito de sediar a Copa não diz respeito apenas a futebol. Diz respeito a nós vencermos, nos deu uma injeção de ânimo. Havia muitas dúvidas se estaríamos prontos e se seríamos capazes de sediar esse torneio.


Por que ainda é tão difícil ver brancos e negros se misturando socialmente pelas ruas da África do Sul?

Precisamos nos lembrar sempre de que somos feitos para sermos interdependentes, porque ninguém é inteiramente autossuficiente. Você só precisa ir aos estádios para ver o elemento mágico do futebol. Ele galvaniza negros e brancos de uma forma excitante. Apenas duas semanas atrás, Soweto sediou uma partida de rúgbi [esporte mais popular entre os brancos] entre os Blue Bulls de Pretória e os Stormers da Cidade do Cabo. Foi um estrondoso sucesso, que viu negros e brancos misturando-se socialmente, comendo e bebendo juntos e se divertindo. Para alguns brancos, era a primeira visita a Soweto sem se preocupar com a segurança. E sabe o quê? O céu não desabou, manteve-se firmemente no lugar. Estamos recebendo uma oportunidade maravilhosa. Nunca vi tantas pessoas mostrando nossa bandeira em seus carros e em todo lugar possível.


Desde o fim do apartheid, a desigualdade de renda aumentou. A violência às vezes parece fora de controle. As mudanças sociais estão ocorrendo devagar demais?

De um certo modo, a transformação social parece que está demorando demais. Temos problemas demais, não há questão quanto a isso. Mas você também deve notar que obtivemos nossa liberdade há apenas 16 anos, após décadas cruéis de apartheid. Estamos falando da sistemática opressão de gerações, algo que compreensivelmente não pode ser revertido num curto período. Isso não significa tolerar corrupção, enriquecimento pessoal, clientelismo, más decisões quanto à Aids e a outros problemas que afligem nossa nação. A pobreza e o desemprego continuam a nos assombrar.


No Brasil, chegou-se a discutir a formação de uma Comissão de Verdade e Reconciliação, para investigar o regime militar. Com base em sua experiência, o sr. diria que esse instrumento funciona?

A comissão sul-africana é considerada um modelo inovador para construir paz e justiça. A força do processo esteve na participação pública. Uma característica importante foi a abertura, a transparência. As audiências públicas asseguraram que os sul-africanos ficassem sabendo das atrocidades cometidas durante os anos do apartheid. A comissão foi confrontada por um número de desafios, uma vez que não foi aceita por todas as partes do conflito. Os altos escalões militares não cooperaram. Políticos importantes do antigo governo e líderes do aparato de segurança tampouco. No caso dos movimentos de libertação [como o CNA], argumentaram que, dado que tinham conduzido uma "guerra justa", não precisariam pedir anistia, já que suas ações não constituíam graves violações de direitos humanos. Foi preciso haver considerável convencimento para que eles participassem. A magnanimidade mostrada por algumas pessoas foi incrível. Recusaram a possibilidade de vingança e abraçaram o perdão e a reconciliação. Creio que, sem esse processo, nosso país teria experimentado um conflito social inimaginável.


O sr. ganhou as manchetes recentemente, participando de um estudo do genoma por pesquisadores americanos. Por que fez isso e o que queria provar?

Estou feliz pela oportunidade de ter participado do projeto de sequenciamento do genoma, uma vez que ele pode descobrir se alguém corre risco de alguma doença genética. Eu me lembro de uma coisa ridícula quando me deram o documento de identidade durante o regime do apartheid. Minha nacionalidade era "indeterminada no momento", isso apesar do fato de que meus pais nasceram na África do Sul. O teste revelou que, embora eu tenha tido tuberculose e câncer, não havia doenças geneticamente comunicáveis. Isso me deu imenso alívio, e ainda mais para meus filhos. Acredito que informações genéticas são importantes para companhias farmacêuticas na preparação de drogas. Devemos sempre rezar para que essas informações vitais sejam usadas para coisas boas, e não más.

FUTEBOL, UM ESPORTE VENDIDO À TV

Da Carta Maior


Futebol, um esporte vendido à TV

Na mesma semana da estreia do Brasil, os vereadores de São Paulo deram uma guinada espetacular e mantiveram o veto do prefeito Kassab à lei, por eles mesmos aprovada, que proibia jogos de futebol na cidade com início depois das 21h15.

Enquanto a Copa segue hegemônica nos noticiários de TV, o silêncio cobre outros fatos importantes ligados ao futebol. Na mesma semana da estreia do Brasil, os vereadores de São Paulo deram uma guinada espetacular e mantiveram o veto do prefeito Kassab à lei, por eles mesmos aprovada, que proibia jogos de futebol na cidade com início depois das 21h15.

Quem marca o horário dos jogos noturnos para às 21h50 são os programadores da Rede Globo. Para eles o futebol é apenas mais um programa da emissora que, por critérios mercadológicos, deve ser transmitido depois da novela.

Em abril, com 43 votos a favor e apenas dois contra a lei aprovada passava a impressão de altivez da Câmara, fato raro na vida política do município. Foi só impressão. Ao invés de manterem seus votos e derrubarem o veto do prefeito, os vereadores paulistanos, com quatro honrosas exceções, curvaram-se aos interesses da Globo. Até um dos autores do projeto, vereador Antonio Goulart, mudou de lado. O outro, Agnaldo Timóteo não apareceu para votar.

E assim os jogos na capital continuam terminando quase à meia-noite. Até pela TV, para quem tem que trabalhar cedo no dia seguinte, como faz a maioria da população, o horário é ruim. Agora para quem gosta de ir ao estádio é um sacrifício desumano.

Os vereadores paulistanos não se dobraram apenas aos interesses da Rede Globo. Eles passaram um atestado de incapacidade absoluta para enfrentar um modelo perverso imposto nas últimas décadas ao futebol brasileiro.

Até o final dos anos 1960 ainda havia algo de lúdico na prática e no espetáculo futebolístico. Lembro do Torneio Início, jogado uma semana antes da abertura do campeonato paulista, num dia só, com a participação de todos os clubes da primeira divisão. Eram jogos mata-mata, de 30 minutos (15 por 15) de duração onde, em caso de empate, ganhava o time que havia obtido mais escanteios a favor, antes da disputa dos pênaltis se fosse necessária.

Curioso era ver os maiores craques do futebol paulista, em volta do gramado, assistindo os jogos dos outros times enquanto esperavam a vez de entrar em campo. Havia um que de amadorismo resistindo às investidas da profissionalização definitiva. O Pacaembu ainda era, nessa época, uma extensão glamorosa dos campos de várzea que se espalhavam por toda a cidade.

A especulação imobiliária nunca contida pelos vereadores paulistanos – em qualquer legislatura – acabou com a várzea e quase acaba com o futebol na cidade. A sua sobrevivência se deu num outro nível, o da mercantilização absoluta. Dos jogadores e do jogo.

Os primeiros passaram a ser formados pelas escolinhas, acessíveis apenas à classe média, ou pelos centros de adestramento criados por empresários cujo objetivo é preparar os seus “produtos” para vendê-los no exterior.

O futebol assume nesse estágio a forma mercadoria em todas as suas etapas. Do berço do jogador à Copa do Mundo nada escapa. O esporte popular das ruas e das várzeas transformou-se num produto caro e altamente sofisticado, operando num nível elevadíssimo de racionalidade capitalista.

Diferente de outros setores da economia e mesmo da cultura, onde o Estado ainda atua para conter de alguma forma a voracidade do mercado, no futebol isso não acontece. Os objetivos privados são absolutos nem que para serem alcançados sacrifiquem-se atletas, torcedores e, no limite o próprio esporte, reduzido cada vez mais a um espetáculo de televisão.

Perderam os vereadores paulistanos a grande oportunidade de colocar o interesse público em primeiro lugar. Resta agora esperar, com bastante ceticismo, que projeto semelhante, apresentado na Câmara dos Deputados, e válido para todo o Brasil, prospere.


Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).

TADEU SCHMIDT SUPERA GALVÃO...

Cala boca, Tadeu Schmidt" supera "Cala Boca, Galvão" no Twitter mundial

Folha Online


“O texto em tom editorial lido no programa "Fantástico", da Rede Globo, deu repercussão no mundo virtual ao jornalista da emissora Tadeu Schmidt.

Dentre os assuntos mais comentados do mundo no serviço de microblogs Twitter nesta segunda-feira (21), a frase "Cala boca, Tadeu Schmidt" era líder absoluto --superou até a antecessora "Cala Boca, Galvão", que liderou por dias seguidos os Trending Topics.

Novamente, a frase confundiu usuários internacionais. "Agora, quem é cala boca tadeu schmidt? É um novo projeto para salvar animais?", perguntou um usuário norte-americano, em alusão à brincadeira propagada sobre o "Cala boca, Galvão".
Foto: Alex Carvalho/Matt Dunham/TV Globo/AP/Montagem Folha
Matéria Completa, ::Aqui::

domingo, 20 de junho de 2010

DESENCANTO POR SARAMAGO

Esse post já foi publicado em maio/09 mas, em função da partida do brilhante intelectual e escritor português José Saramago deste tal mundo, nos pareceu interessante republicarmos. Saramago, Presente!

http://homepage.mac.com/luacintilante/blog2008/files/jose-saramago-1.gif

"Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos". José Saramago (1922 - 2010)

Desencanto

por José Saramago

Todos os dias desaparecem espécies animais e vegetais, idiomas, ofícios. Os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Cada dia há uma minoria que sabe mais e uma minoria que sabe menos. A ignorância expande-se de forma aterradora. Temos um gravíssimo problema na redistribuição da riqueza. A exploração chegou a requintes diabólicos. As multinacionais dominam o mundo. Não sei se são as sombras ou as imagens que nos ocultam a realidade.

Podemos discutir sobre o tema infinitamente, o certo é que perdemos capacidade crítica para analisar o que se passa no mundo. Daí que pareça que estamos encerrados na caverna de Platão. Abandonamos a nossa responsabilidade de pensar, de actuar. Convertemo-nos em seres inertes sem a capacidade de indignação, de inconformismo e de protesto que nos caracterizou durante muitos anos. Estamos a chegar ao fim de uma civilização e não gosto da que se anuncia. O neo-liberalismo, em minha opinião, é um novo totalitarismo disfarçado de democracia, da qual não mantém mais que as aparências. O centro comercial é o símbolo desse novo mundo. Mas há outro pequeno mundo que desaparece, o das pequenas indústrias e do artesanato. Está claro que tudo tem de morrer, mas há gente que, enquanto vive, tem aconstruir a sua própria felicidade, e esses são eliminados. Perdem a batalha pela sobrevivência, não suportaram viver segundo as regras do sistema. Vão-se como vencidos, mas com a dignidade intacta, simplesmente dizendo que se retiram porque não querem este mundo.

Fonte: O Caderno de Saramago

PROFESSORES...

Havia certa vez um homem navegando com seu balão, por um lugar desconhecido. Ele estava completamente perdido, e qual grande foi sua surpresa quando encontrou uma pessoa... Ao reduzir um pouco a altitude do balão, em uma distância de 10m aproximadamente, ele gritou para a pessoa:

- Hei, você aí , aonde eu estou? E então a jovem respondeu:
- Você está num balão a 10 m de altura!
Então o homem fez outra pergunta:
- Você é professora, não é?
A moça respondeu:
- Sim...puxa! Como o senhor adivinhou?
E o homem:
- É simples, Você me deu uma resposta tecnicamente correta, mas que não me serve para nada...
Então a professora pergunta:
- O senhor é secretário da educação, não é?
E o homem:
- Sou...Como você adivinhou???

E a Professora:
- Simples: o senhor está completamente perdido, não sabe fazer nada e ainda quer colocar a culpa no professor.

sábado, 19 de junho de 2010

O HOMEM QUE DIZIA NÃO

O homem que dizia não

Em uma entrevista, em 1998, Saramago disse que não tinha tempo para pensar na morte porque tinha muitas coisas que lhe faziam viver. E que não flertava com arrependimento: "Se tivesse que reviver tudo de novo, mesmo com o que há de triste, de mal, de feio, ainda assim, viveria tudo de novo".

Morreu o homem de Lanzarote. E o mundo encolheu de ontem pra hoje: Saramago recebeu o ponto final. Além de haver sido o ganhador do primeiro Nobel de literatura concedido a escritor de língua portuguesa, foi a grande referência para a esquerda em todo o planeta. Nesse segundo aspecto guarda forte semelhança com o ideário político de nosso longevo e brilhante Oscar Niemeyer. Saramago foi alguém cuja arte literária se firmou ante a Academia do Nobel como mais representativo em nossa língua que Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, João Cabral de Mello Neto. Recebeu o Nobel com 76 anos em uma época em que já era escritor prolífico, traduzido em dezenas de idiomas e tendo agregado junto à sua obra multidão de leitores com uma fidelidade inquebrantável.

Contava 87 anos de idade e pelo menos uns 12 séculos de história. Sua casa em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, era a própria caverna do pensador inflamado e do justiceiro impiedoso para com as falsas quimeras. Era filho de pastores analfabetos e pobres; segundo o próprio Saramago, "para quem o livro era um luxo inatingível".

Sua estréia como escritor foi pontuada por amplos travessões e gritantes silêncios. O primeiro romance foi publicado em 1946 quando contava 23 anos de idade e o segundo somente veria letra tipográfica depois de 30 anos, em 1976. E fez um pouco de tudo: mecânico, funcionário público, gerente de gráfica, revisor, tradutor, articulista de jornal.

Totalitarismo revisitado
Aprendi a admirar Saramago muito cedo, contava ainda menos de 20 anos e ficava encantado com aquele texto avançando sobre as páginas, ignorando por completo idéias tão obscuras quanto parágrafos, letras maiúsculas, pontos finais. A escrita de Saramago é formada por potentes blocos de prosa sem pit-stop e nada de quebra de parágrafos e muito menos uso de aspas.

Intuo que pesquei dele esse jeito de me esparramar sobre o tema que desejo tratar e não poucas vezes entendo que se não fosse pela paciência e dedicação de uns poucos amigos (e revisores) toda a idéia seria abarcada, de um só jato, sobre o bloco primeiro do texto. Foi com o tempo que constatei ser impossível escrever aos pedaços e também impossível ser lido sem render reverência à necessidade que os textos têm de respirar e para isto vieram à existência os parágrafos e, mais além, o luxo que os bons intertítulos desfrutam, para deleite dos leitores. Era o ponto de união entre tradicionalismo e vanguardismo.

Saramago tinha jeito de rio caudaloso, guardando a extensão do Nilo e a vazão do Amazonas, e era dado a conchavos com a criatividade: Evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a cegueira, A viagem do elefante, Ensaio sobre a lucidez, Memorial do convento, A caverma, Cadernos de Lanzarote. Vendeu mais de dois milhões de exemplares em todo o mundo. Fernando Meirelles levou às telas em 2008 o inquietante Ensaio sobre a cegueira.

Era um autor crítico, utópico, comunista. Diante da Real Academia da Suíça disse que se para ganhar o Nobel tivesse que renunciar às suas convicções, renunciaria antes ao prêmio. Quando, pressionado pela igreja católica, o governo português bloqueou a entrada no país de um Prêmio Literário Europeu, em 1992, ele não demorou a seguir para o exílio nas ilhas Canárias, uma possessão espanhola.

E foi sempre um homem apaixonado. E sua paixão era a mulher, Pilar Del Rio, conhecida jornalista espanhola. "A ela, devo toda a minha vida", diria em 1993. Nada lhe passava batido. São recorrentes suas declarações e impressões sobre os conflitos de Chiapas, o regime cubano, a guerra no Iraque, a causa palestina, o Haiti. Suas idéias esbanjavam clareza. Foi um dos primeiros intelectuais europeus a visitar, ainda em 2002, a Cisjordânia e o que viu lá o levou a comparar o tratamento concedido por Israel aos palestinos com o Holocausto.

A ética foi o princípio criativo que brilhou em toda a sua produção intelectual. Achava cômico ser classificado como escritor triste, soturno, melancólico. Dizia ser seu direito esposar o pessimismo após viver em uma época com tantos conflitos armados ruinosos, com a destruição de Guernica, campos de extermínio mantidos pelos nazistas nos anos 1940, explosão de bombas atômicas sobre cidades japonesas, disseminação do agente laranja no Vietnã, os horrores de Abu Ghraib.

Para ele a globalização devia ser vista como uma nova forma de totalitarismo e lamentava o fracasso da democracia contemporânea em conter o sempre crescente poderio das empresas multinacionais.

Ponto de separação
É de admirar que alguém reconhecidamente pessimista tivesse seu grande sucesso de vendas com a cômica história de amor Baltasar e Blimunda, romance que retrata as desventuras de um trio de pessoas excêntricas em vias de ser exterminado pela Inquisição: um padre hereje que inventa uma máquina voadora, um ex-soldado e a filha de um feiticeira dotada com visão de raio-X, sendo os amantes os dois últimos.

O crítico Irving Howe destacou em sua obra a reunião de uma fantasia lírica a um realismo áspero e só Deus sabe o que isso quer dizer, ainda mais agora, que não temos entre nós o bom decifrador de textos que foi Wilson Martins. Saramago era em boa medida a voz ceticismo europeu e, todos hão de concordar, era o mestre dos mestres na arte da ironia.

E era paradoxal tal qual o tempo em que viveu. Embora seus principais romances denotassem intensa preocupação com Deus, afirmava-se ateu militante. "A história humana seria muito mais tranqüila não fossem as religiões", dizia Saramago.

Quem não se lembra de uma das passagens mais líricas e inquietantes da obra de Saramago, revelada no excelente Evangelho segundo Jesus Cristo? Refiro-me à passagem em que Jesus na cruz pede desculpas à humanidade... pelos pecados de Deus. E tem início aí a bifurcação a separar seus admiradores de seus críticos. Os primeiros afirmavam ser essa percepção profundamente religiosa e os segundos, encontravam nela nada mais que explicita blasfêmia. Tal foi o escritor Saramago.

Grafado em pedra
Não vou deixar de compartilhar o quanto me agradou a leitura do seu A viagem do elefante. Neste, o autor detalhava em profundidade a história real, ocorrida nos 1700, em que o rei de Portugal tratava de levar o pobre quadrúpede de Lisboa para Viena. Todos os prós e todos os contra se encontram em transe literário e nos fazem pensar como é que alguém consegue extrair uma história cativante a partir desse enredo? Entretanto, há que se convir que Saramago tem o poder que poucos tem para descrever coisas e fatos e, caso não fosse a fatídica e hilária viagem do elefante por terras européias, ele poderia nos convidar a mergulhar numa xícara pequena de café e dali sair com a sensação que a literatura pode mais que qualquer tudo.

Em entrevista à televisão espanhola em fins de 1998 declarou que não tinha tempo para pensar na morte porque tinha muitas coisas que lhe faziam viver. E também não flertava com arrependimento: "Se tivesse que reviver tudo de novo, mesmo com o que há de triste, de mal, de feio, ainda assim, viveria tudo de novo".

E quando alguém for levar flores ao túmulo de José Saramago bem poderia ler na lápide a ofuscante inscrição:

Jaz aqui o homem que ousou dizer não.

(*) Texto publicado originalmente no Observatório da Imprensa


Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com

ODEIO FUTEBOL - MOACYR SCLIAR

  • Há muita gente no Brasil que, por diferentes motivos, não suporta o chamado “esporte bretão”

    No Brasil, o futebol é uma paixão nacional. Por causa disso, tendemos a pensar que todo mundo gosta desse esporte.

    Pois não é bem assim. Em busca de opiniões a respeito, contra ou a favor, ocorreu-me entrar no Google e digitar duas palavras: “Odeio futebol”. Façam isso, e vocês obterão nada menos de 288 mil referências. Ou seja, há muita gente que não é exatamente fã do chamado esporte bretão. E essas pessoas chegam até a se associar para expressar seu desagrado. Descobrimos que Odeio Futebol é o nome de uma “comunidade criada como resposta à Ditadura Futebolística aonde (sic) somos bombardeados diariamente e principalmente nos finais de semana, elevando (sic) a qualidade televisiva a um grande lixo. Somos obrigados desde o nascimento a gostar de futebol, se não gostamos somos excluídos. Dizer que futebol é patrimônio do Brasil é uma grande imbecilidade, o patrimônio deveria ser a Educação e a qualidade de vida. Chega de Pão e Circo!” E a proclamação termina com uma frase de Millôr Fernandes: “O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia”. A comunidade “Odeio futebol” nos faz lembrar a Liga Contra o Futebol, fundada pelo grande escritor Lima Barreto em 1919. Para ele, o esporte era coisa do colonialismo inglês, uma atividade racista (de fato, jogadores negros foram eliminados da seleção que em 1921 foi jogar na Argentina).

    ~

    Num blog, o autor lista os 10 motivos pelos quais odeia futebol. As regras são complicadas demais, 90 minutos é muito tempo, aborrece-lhe o fato de associar um esporte à brasilidade; e, ah sim, não gosta do Galvão Bueno. Mas lá pelas tantas confessa as verdadeiras causas de seu ódio: “Sou um perna de pau convicto, sempre fui o último a ser escolhido, nunca fiz um gol bonito.” Ou seja: frustração pura e simples.

    A mesma franqueza anima Cristiana Soares, carioca, jornalista e escritora. Em seu blog ela diz: “Invejo os homens. Não pelo pênis, mas porque eles não têm angústia. Eles têm o futebol. Você já viu um homem na frente de uma TV assistindo a um jogo? Eu não só vi, várias vezes, como tentei passar na frente. Entre ele e a tela. Nua. Tudo bem, só de calcinha, vai. Rebolei pra cá, rebolei pra lá. E nada. Espelho sem aço. Mulher invisível. Ele jogava os ombros para um lado e para o outro, cabeça para cima, para baixo, só me driblando, enquanto os olhos permaneciam fixos como os de um hipnotizado. Ai, como eu invejo os homens. Eles têm onde canalizar a agressividade. Enquanto nós gritamos histericamente, falamos sem parar, contamos tudo o que aconteceu com a gente durante o dia, a raiva que temos do nosso chefe, a vontade de mandar tudo à merda, eles não despendem energias com picuinhas do cotidiano.Chegam em casa, tomam um banho, vestem a camiseta com furinhos, sentam no sofá, suspiram felizes e sintonizam no sei-lá-quem versus sei-lá-quem-mais. Pra que se preocupar com as agruras do mundo?”

    ~

    Boa pergunta. Claro, a Cristina esqueceu as agruras do futebol, que não são poucas. Mas isso é assunto para outro blog.

A Copa da China, por Flávio Tavares*

Naquele distante e próximo ano de 1949, no colégio marista em Lajeado, o Irmão Canísio nos pediu “uma redação” de 40 linhas sobre o ludopédio. Ele era um purista do idioma e explicou: “ludus” é jogo em latim; “pedus” é pé. Jogávamos bola duas vezes por semana, mas só naquele dia soubemos que, em verdade, aquilo se chamava ludopédio e não foot-ball, como se escrevia na grafia original dos ingleses.


Mesmo sob agasalho do melhor vernáculo, o ludopédio não sobreviveu na escrita nem na oralidade. O futebol o suplantou de goleada. Houve, porém uma exceção. Em plena ditadura, a 14 de dezembro de 1968, no dia seguinte ao totalitário Ato Institucional nº 5, um grande jornal carioca ressuscitou o termo na primeira página, em ironia. “Ludopédio” surgiu de chofre para mostrar aos leitores que havia censura e que, a partir dali, a imprensa estava ameaçada de tornar-se ridícula.

O futebol (ou o desporto) é contagiante forma de descobrir o mundo. Séculos atrás, para saber que existia outra gente além do Mediterrâneo, as caravelas de Vasco da Gama, Colombo e Pedro Álvares Cabral enfrentaram tempestades durante meses por “mares nunca dantes navegados”. Agora, basta “a Copa”, dita assim, como algo autônomo, inteligível em si.

Na euforia da Copa atual, em que o descobrimento maior é Nelson Mandela (não só seu país), há um campeão antecipado, proclamado mundo afora ao som das vuvuzelas.

A China é a grande campeã, ainda que seu futebol não esteja na África do Sul. Tudo ou quase tudo referente à Copa é chinês. As fitas e bandeiras verde-amarelas nas praças, residências e automóveis, ou os gorros e camisas que vestimos, vieram da China, tal qual as dos “hermanos” argentinos ou dos demais participantes, incluídos os anfitriões. São “made in China” os uniformes das seleções, em maioria.

Diz-se que o som instigante e irritante das vuvuzelas altera o ânimo e o ritmo dos jogadores, mais do que a nova bola inventada pela Fifa. As vuvuzelas africanas que irrompem nos estádios, porém, são feitas na China, num plástico que torna terrivelmente trepidante o som grave ou agudo, diferente das originais dos artesãos tribais.

A produção em massa leva à profusão de vuvuzelas e bandeiras misturando berro e cor.

O futebol funciona como anzol e único sol nestes dias frios e úmidos em que o calor surge da ansiedade pelos resultados. Em termos psicossociais, o Brasil está paralisado à espera da Copa. Exageramos na necessidade de acreditar em expectativas e deuses que se desfazem de um dia a outro como gelo ao sol, basta que Dunga não os leve à Seleção.

Desde menino, admiro no futebol a beleza da dança que sequer o maravilhoso “ballet” de Galina Uliánova conseguiu superar. Indago-me, porém, se não é estranho o culto fanático e exacerbado a algo belo pela destreza e em que competir exige perder ou ganhar. E se déssemos às ciências, ou às letras, a importância que damos ao futebol?

Escrevo agora de São Paulo, com a cidade entristecida de dor pela decisão da Fifa de excluir o estádio do Morumbi de sede da abertura da Copa de 2016. A maior cidade da América do Sul merece essa primazia, mas o governador paulista Alberto Goldman e o prefeito paulistano reafirmam que “não é justo aplicar dinheiro público em um estádio”. Corretíssimo!

Afinal, o lema de “pão e circo” da Roma Antiga passou à História como desprezível. Ou não?

*JORNALISTA E ESCRITOR

GUERREIROS DA CERVEJA POR MARCOS ROLIM

Guerreiros da cerveja, por Marcos Rolim*

Dunga tem recebido muitas críticas na crônica esportiva. Diante delas, fico sempre com a impressão de que não se trata do técnico, nem das partidas de futebol, mas da ideia que cada um tem sobre o futebol e sobre os modelos – sempre idealizados – do que seja “jogar bem”. Sim, é claro, Dunga poderia ter levado Ganso e Neymar, ao invés de, digamos, Josué e Grafite. Mas, convenhamos, isso não deveria importar muito diante do fato incontestável de que temos um time competitivo com o qual podemos ser campeões. Nem deveria obscurecer os méritos de Dunga na formação de um conceito que se desloca – até aqui vitoriosamente – em campo. Bem, mas esta não é uma crônica sobre futebol. Antes, penso que seja uma crônica sobre o silêncio.

O maior erro de Dunga não foi objeto de atenção dos comentaristas, nem produziu debate na imprensa brasileira. Refiro-me ao fato de o técnico da Seleção estar alugando sua merecida e respeitável imagem de “guerreiro” à venda de uma cerveja. Como se sabe, alguns dos titulares da Seleção Brasileira também foram contratados para este papel de garotos-propaganda de bebida alcoólica. Tivemos, aqui e ali, uma ou outra observação sobre o fato, mas nenhum debate. Tudo se passa como se fosse um episódio “normal”. Será? Penso que não. Ilana Pinsky, em artigo na Folha de S. Paulo, chamou atenção para o fato de que 87% do merchandising e mais de 70% das propagandas da TV aberta de bebidas alcoólicas são veiculadas nos intervalos ou durante os programas esportivos. Só isso já seria preocupante quando se sabe, segundo estudos da Organização Mundial de Saúde, que os custos derivados do consumo de bebidas alcoólicas na América do Sul representam de 8% a 15% do total dos gastos com saúde pública, o que contrasta com o comprometimento médio de 4% dos orçamentos na área no resto do mundo. Bebe-se muito por aqui, então. Muito mais do que seria razoável. Mas quando associamos o consumo de bebidas alcoólicas à prática esportiva – e, especialmente, quando vinculamos simbolicamente nossas maiores conquistas e nossos ídolos no futebol ao hábito de beber – o que fazemos é aumentar o problema.

O consumo de bebidas alcoólicas no Brasil é um hábito firmado no público jovem – entre 18 e 29 anos – e se concentra muito entre os homens (78%). Não por acaso, então, as estratégias de marketing envolvem mensagens apelativas com mulheres (o que permite a associação entre desejo sexual masculino e bebidas) e esportes (destacadamente o futebol). A ironia é que o álcool deprecia as possibilidades de qualquer atleta e tende a transformar os mais ardentes sonhos sexuais masculinos em pesadelos patéticos. Mais do que isso, o consumo de bebidas alcoólicas está correlacionado fortemente à violência, ao sexo desprotegido e aos acidentes de trânsito. Tratamos, então, queiramos ou não, dos estímulos que a propaganda pode oferecer à morte. Mas o que é a morte diante de lucros bilionários e milhões em verbas publicitárias? Um brinde ao silêncio, então.

marcos@rolim.com.br

*JORNALISTA

ARSENAL NUCLEAR

GRANDES MESTRES: SARAMAGO

O mal é não estarmos organizados, devia haver uma organização em cada prédio, em cada rua, em cada bairro, Um governo, disse a mulher, Uma organização, o corpo também é um sistema organizado, está vivo enquanto se mantém organizado, e a morte não é mais do que o efeito de uma desorganização,… (José Saramago, em "Ensaio Sobre a Cegueira")

sexta-feira, 18 de junho de 2010

REUNIÃO DA CUT REGIONAL NA SEGUNDA

Assunto: Reunião Cut Regional

Dia: 21/06/10 (segunda-feira)

Horário: 17H

Local: Cpers


Pauta:
- Informes;
- avaliação da viagem a São Paulo;
- Avaliação da Atividade de Formação;
- escolha da
data para a Plenária de escolha do novo coordenador da Cut Regional ;
- outros.

O ANO EM QUE NASCEU SARAMAGO

Retransmitido do Portal do Vermelho


O ano em que nasceu Saramago

Em visita à mostra "José Saramago: a Consistência dos Sonhos", há dois anos, o Nobel da língua portuguesa revia o seu percurso e recordava o poema de Ricardo Reis. "Eu vivo guiado por estes versos: ‘para sê grande, sê inteiro, põe tudo o que és no mínimo que fazes'".

Por Isadora Ataíde

Um homem "íntegro, inteiro" é como Zeferino Coelho, editor de uma vida, saudou Saramago minutos depois de anunciada a morte do escritor. Pilar del Rio, esposa e "casa" de José,
sublinhou-me em entrevista de há um ano, a simbiose entre o homem e o escritor. "Há uma grande naturalidade, ele é igual a sua obra, sem distração alguma. Ele não cria ficções, entretenimento, ele escreve sobre o seu mundo".

"O Nobel José Saramago morreu hoje, em sua casa, em Lanzarote", anunciava a rádio. Fui transportada para um trecho de "As Pequenas Memórias", em que Saramago recorda o avô a abraçar as árvores do Alentejo em ritual de despedida. E o escritor, como o escritor despede-se dos leitores, das palavras? Saltou-me a recordação de Saramago à secretária, ao terminar "A viagem de um Elefante", na casa do Arco Cego, em Lisboa, onde o saudei pela última vez.

Nos encontramos três vezes. Eu sempre assaltada por uma timidez desproporcional, sem saber onde guardar as mãos ou colocar o olhar até firmá-lo nos olhos do mestre e repetir-lhe: "O senhor ofereceu-nos o melhor da literatura, muito obrigada. Admiro, respeito e partilho as suas idéias sobre o mundo".

Ele também era fiel na resposta, num tom baixo e pausado, em sorriso suave: "É com gosto que ouço as suas palavras, é bom sabê-lo, muito obrigado". E dedicava-me um livro, "Para a Isadora, com a minha simpatia".

A ficção de Saramago, que coincide com o seu mundo, é a do homem moderno dos anos 20 do século passado. Nascido em 16 de Novembro de 1922, Saramago atravessou o século sem pestanejar em suas crenças, a defender num contínuo os valores essenciais da liberdade e da
igualdade.

Zeferino Coelho, em entrevista em 2009, ressaltou a militância do escritor. "Quando acontece uma tragédia em qualquer parte do mundo, natural ou política, ela comove profundamente o
Saramago e a Pilar, mexe com eles. Há um lado na visão de mundo dele que é excêntrica, cética. Mas ao mesmo tempo há um lado de intervenção, de se estar ativo, de denunciar as misérias do mundo".

O nosso primeiro encontro foi nas estantes de ferro da Biblioteca Municipal de Florianópolis, corria o ano de 1994, tinha eu 15 anos. Foi um amor à primeira letra, que me impediu de devolver o "Memorial de Convento" às estantes. Depois eu perdi-me no Atlântico, a bordo da "Jangada de Pedra", numa península que se fazia de metáfora para a deriva dos continentes e da espécie. E na surpresa de cada novo romance, no virar inquieto das páginas, eu perguntava-me: onde nascem as idéias de Saramago?

Se estou na redação do Diário de Notícias - no meio daquela balbúrdia que é o fazer jornalístico - apanho-me a olhar para a sala da direção e a convencer-me de que ali, no Verão Quente de
1975, Saramago imaginava suas histórias. João Céu e Silva, jornalista e escritor, afirma que Saramago tem um percurso literário que se

gue uma lógica interna. "Ele escreve duas páginas por dia e estão escritas para sempre. Ele tem uma cabeça muito organizada, ele está horas a pensar-se e quando senta para escrever aquilo já está definido", contou-me há um ano.

O tempo de José é o do homem contemporâneo que relê a trajetória de Caim para reescrever o princípio do mundo. Trata-se do autor da Idade Média que em Baltasar e Blimunda retrata o amor intemporal, o sonho de Ícaro e a perseguição às mulheres.

Saramago é do século XX, das epidemias que nos cegam e insensibilizam. José é do século XXI, onde há homens duplicados, eleitores rebeldes que votam em branco e revisores que editam a História. Se calhar, foi a ausência do fator tempo ou o não-lugar, ou mesmo as traduções que lhe roubaram a língua. Pode ser o transcender das referências e do cânone, inclusive com a determinação da morte dos pontos e parágrafos. Saramago já não é mais homem e os seus escritos não são obra. O Zé, aquele de Aziganha, é universal e definitivo nas suas palavras.

O crítico Harold Bloom pondera que a leitura nos leva ao "sublime", e, que para além do amor, "é a única transcendência secular que nos é possível". Ocorre-me que os escritores não se despedem, porque não partem. A escrita de Saramago, o próprio a fazer letra dos seus pensamentos, continuará a nos provocar o sublime. Quiçá para muitos será este o ano em que nasceu José Saramago.

"A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ele que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte. ninguém morreu" (José Saramago, em As intermitências da morte).


*Isadora Ataíde é jornalista em Lisboa

quinta-feira, 17 de junho de 2010

DOAÇÃO DO MORRO SANTA TEREZA É ADIADA PELA 2ª VEZ

http://centrodeestudosambientais.files.wordpress.com/2010/04/fase03.jpg?w=540&h=483FaSE
Os deputados gaúchos voltaram a discutir, em regime de urgência, o Projeto de Lei 388/09 que trata exclusivamente da autorização para venda ou permuta de 756 mil metros quadrados de área pública do Estado, na Orla do Guaíba em Porto Alegre.

Venda do Morro Santa Tereza é adiada pela segunda vez
Pela segunda vez, a pouco mais de um mês do inicio do período eleitoral, a aprovação do PL 388 foi adiada na Assembleia Legislativa, onde o Governo Yeda tem maioria. A Bancada Governista que na semana anterior não deu quorum para a votação demonstrou claramente a falta de acordo interno e de liderança. O primeiro a subir na Tribuna para declarar que não apoiaria o governo, foi o deputado Nelson Harter, do PMDB. Não chegou a surpreender a atitude deste parlamentar da base de apoio do governo. Mas quando outro peemedebista insuspeito, como Alexandre Postal fez uso da palavra para implorar ao seu próprio líder de Bancada, mais tempo para discutir o PL, as galerias lotadas de moradores do Morro vieram abaixo. O anuncio do falecimento do ex-deputado Bernardo de Souza encerrou abruptamente a sessão, que só volta discutir e a votar o tema na próxima semana.

Alem do PMDB, a iminência do anuncio do deputado Berfran Rosado, do PPS como vice de Yeda Crusius em sua corajosa campanha de reeleição, deixou os fieis do PP paralisados. Depois de toda a sustentação política do partido a péssima administração tucana no Estado, a mais tradicional direita ficou com o pincel na mão.

A inépcia política do Palácio Piratini somada a uma questão de interesse de pouquíssima gente no Governo somada as indisposições eleitorais antevê o fim melancólico de uma administração que entrara para a historia do Estado da pior forma.

Atrás dos méritos está especulação imobiliária
A venda do Morro Santa Tereza vinha sendo tratado com certa discrição pela imprensa local (leia-se Grupo P-RBS), maior interessada no negócio. Mas já era farta a distribuição de falácias e falsas indignações de (de)formadores de opinião e colunistas mal intencionados.

Na semana passada, o Governo teve uma de suas mais ridículas derrotas no Parlamento Gaúcho, onde detém maioria e teoricamente teria plenas condições de fazer passar qualquer matéria de seu interesse.

A falta de quorum dos governistas empurrou a discussão e a votação para esta quarta. O que não mudou foi a desinformação patrocinada por uma rede de jornais, canais de TV, rádio, sites e um conjunto de profissionais preocupados em garantir os interesses de sua empresa, que enxergam em qualquer tentativa de discussão, a ameaça vermelha.

A principal e corrente inverdade em que se escuda a venda da área é a reestruturação da Fundação de Atendimento Sócioeducativo (FASE). Não existe sequer previsão de um projeto de reestruturação no PL 388. O Governo do Estado em nenhum momento apresentou qualquer proposta nesse sentido e limitou-se a afirmar que no caso da área não ser vendida, ela poderia ser permutada pela construção de unidades descentralizadas, sem sequer determinar onde seriam construídas.

O presidente da FASE, o coronel da Brigada Militar, Irany Bernardes de Souza, chega a afirmar em matéria publicada na edição do dia 09 de junho, do jornal Zero Hora, que o destino da área dependerá da empresa que vencer a concorrência. O militar deixa antever os reais objetivos da barganha. O Estado vende e não se responsabiliza mais pelos moradores, pelo destino dos adolescentes infratores, muito menos pela área de preservação ambiental.

Outra inverdade propagada é a de que venda é necessária para levantar recursos e assim melhorar o atendimento dos adolescentes infratores. Não existe a menor necessidade do Governo do Estado levantar recursos para o atendimento das demandas da área social, porque há dinheiro público mais que suficiente para isso.

Em dezembro do ano passado, coincidentemente, o mesmo período em que o PL 388 foi apresentado na Assembleia, os deputados autorizaram a utilização de R$ 980 milhões do Fundo Previdenciário para investimentos na malha rodoviária. O recurso foi parar no, antes polêmico, Caixa Único do Estado e passou a servir para a onda de conclusão de trechos de asfalto no interior. O que significa dizer que serviu para a candidata Yeda Crusius antecipar sua campanha à reeleição.

Além do dinheiro do Fundo, o Governo do Estado tem a sua disposição desde metade de novembro de 2009, recursos na ordem de mais de R$ 94 milhões. Também em abril foi aprovado o Projeto de Lei 100/2010, que autorizou o empréstimo junto do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de mais R$ 141 milhões. Dinheiro do Fundo de Participação dos Estados (FPE), que está disponível desde o ano passado a custo zero para o Estado do Rio Grande do Sul.

A questão dos moradores, tratada pela mídia interessada (leia-se Grupo RBS), como invasores, foi tema de recomendação da Promotoria da Ordem Urbanística do Ministério Público para o Governo do Estado, alertando para a existência de uma Ação Civil Pública que exige do Poder Público, a regularização fundiária e urbanística. Nada disso é previsto no texto do PL 388.

Justamente a presença de lideranças das associações de bairro em audiências públicas, grupos de trabalho e mais recentemente, nas galerias do Plenário da Assembleia, para reivindicar o direito a moradia, garantido pela Medida Provisória 2220, que prevê a concessão de área pública para fins de moradia, revelou a verdadeira natureza do negocio proposto pelo Governo.

Mesmo que o Governo, política e moralmente derrotado, consiga unidade suficiente para aprovar o PL na próxima semana, o Estado corre o risco de não ver os recursos da venda tão cedo, porque o negócio deve ser interditado pela Justiça, até que as questões de ordem fundiária e urbanística sejam resolvidas, jogando dessa forma a área num limbo jurídico, numa terra de ninguém, até que os longos prazos e a liturgia da Justiça se cumpram.

Fonte: Celeuma

CASO FORD MANIPULAÇÃO IDEOLÓGICA DA DIREITA

QUINTA-FEIRA, 17 DE JUNHO DE 2010

Caso Ford, a manipulação ideológica da direita

Tem dias em que a ficha cai.
Chega de conversa fiada.
Basta de falsa objetividade.
Que se abra o jogo.
Que se ford.

Vamos ao problema.
A reabertura do caso Ford, com a condenação da montadora a devolver o dinheiro gaúcho que pegou adiantado, não usou e não entregou, dá o que pensar.
Foi a maior manipulação ideológica do Rio Grande do Sul moderno. Uma guerra sem quartel e estratégica.
Não uma guerra ideológica da esquerda contra a Ford.
Uma guerra ideológica da direita contra o governo Olívio Dutra. Um pretexto para atingir o petismo.
Uma vingança contra a chamada arrogância do PT.
Se a Ford não tivesse ido embora, talvez a direita tivesse lhe pedido para fazer isso, pois nunca uma ruptura de contrato foi tão benéfica e providencial para a propaganda ideológica da direita gaúcha.

A Ford queria mundos e fundos.
Antônio Britto estava disposto a dar tudo.
Olívio Dutra teve a coragem de ponderar.

O antipetismo gaúcho é tão visceral, tão xiita, tão fanático e fundamentalista, que precisava de um motivo para se vingar dessa pedra no sapato. Encontrou. O PT incomodava demais. Havia desbancado os tradicionais donos do poder.
Nada mais inadmissível. Um verdadeiro pecado mortal. Tinha de ser punido por essa ousadia.
Certamente houve erros na condução da negociação com a Ford.
O PT cometeu erros ao longo da sua curta trajetória. A lista é longa das suas babadas.
Olívio Dutra também errou.

A Ford cometeu mais erros ainda. Na época, tinha um presidente medíocre e arrogante que não sabia e não queria negociar. Representava a poderosa Ford e pretendia impor no grito todos os seus desejos.
Queria tudo: isenção de impostos, adiantamentos, infraestrutura, mamão com açúcar, privilégios sem fim.
Uma multinacional não aceita ser tratada como qualquer empresa. Quem abre uma empresa, paga impostos. Salvo de for uma montadora messiânica. Ao cair fora, a Ford aplicou um cambalacho de vigarista barato.
Partiu com a grana dos gaúchos.

A mídia amiga da direita deitou e rolou. Convenceu os convencidos de que a Ford havia sido expulsa. Afetou a consciência dos mais simples e dos mais ideológicos. Deliciou-se dando as cartas e jogando de mão.
Falava sozinha. Foi a época de ouro do conservadorismo na mídia gaúcha.
Tudo tem um preço: o da Ford era alto demais.
A manipulação ideológica em torno do caso Ford continua rendendo. É o hit mais tocado pela direita.
Ainda toca o coração dos incautos.

Dizem que os petistas são xiitas, radicais e ultrapassados. Muitos, claro, são.. Mas nem todos.
Desconheço gente mais xiita do que os da tribo dos antipetistas. É um fundamentalismo rasteiro, primário, rastaquera, carregado de ódio e de simplificações, do tipo petista come criancinha e vomita heresias.

Eu não sou petista. Não tenho partido. Nunca terei..
Tenho é paciência para levar anos analisando certos fatos.
Tem muita gente que deveria pedir desculpas a Olívio Dutra. Gente que, se o PT estivesse no governo gaúcho agora, nem ficaria a favor da devolução do dinheiro pela Ford. Essa montadora é cara-de-pau.

Desenterrei tudo sobre o caso Ford. Estudei o dossiê como quem se prepara para uma tese.. Mergulhei na história. Não hesito em afirmar: a saída da Ford foi um motivo para esculhambar o petismo. Continua sendo.

Só há coisa a repetir: queremos nosso dinheiro.
O resto é conversa para reacionário dormir feliz.