segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NOVA SUSPEITA DE CORRUPÇÃO NA FIFA INCLUI RICARDO TEIXEIRA


Nova suspeita de corrupção na Fifa inclui Ricardo Teixeira


ZURIQUE, Suíça, 29 Nov 2010 (AFP) -Novas acusações de corrupção sobre dirigentes da Federação Internacional de Futebol (Fifa) foram feitas nesta segunda-feira pela imprensa suíça, a poucos dias do anúncio das sedes das Copas do Mundo de 2018 e de 2022.

Segundo o jornal Tages-Anzeiger, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, o presidente da Confederação Africana de Futebol (CAF), Issa Hayatou, e o presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), o paraguaio Nicolás Leoz, estiveram vinculados a uma lista secreta de pagamentos após a falência de uma empresa associada à Fifa.

Há quase uma década, em 2001, a agência de marketing ISMM/ISL faliu em meio a uma polêmica sobre acusações de que subornos foram pagos na atribuição de contratos de televisão.

Neste caso, um tribunal do cantão suíço de Zug impôs multas a três executivos da ISMM/ISL em 2008 por fraude e crimes contábeis.

Leoz já figurava na lista como receptor de pagamentos suspeitos da agência de marketing, além de outras empresas com sedes em paraísos fiscais, segundo os dados apresentados pela procuradoria suíça em 2005.

Teixeira, Leoz e Hayatou integram o grupo de 22 dirigentes do Comitê Executivo da Fifa que escolherão na próxima quinta-feira as sedes dos Mundiais de 2018 e de 2022.

As acusações do Tages-Anzeiger se somam, entre outras, às denúncias que deixaram o taitiano Reynald Temarii e o nigeriano Amos Adamu de fora da votação do dia 2 de dezembro.

No final da tarde de hoje, a rede britânica de informação BBC decidiu antecipar a apresentação de um documentário que confirma as denúncias de corrupção na Fifa.

"O programa é de interesse público e mostra que alguns executivos da Fifa que participam da decisão sobre a candidatura para (a Copa de) 2018 têm um histórico de aceitar subornos", destacou um porta-voz da BBC.

"Esperar para apresentar o programa não era uma boa opção, já que ficou claro que as Nações organizadoras (do Mundial) poderiam ser escolhidas por responsáveis com um histórico comprovado de corrupção".

Inglaterra, Rússia e as candidaturas conjuntas Espanha-Portugal e Holanda-Bélgica disputam a organização da Copa de 2018, enquanto Austrália, Estados Unidos, Japão e Qatar desejam organizar o Mundial de 2022.

A organização Transparência Internacional (TI) pediu à Fifa que adie a eleição das sedes das próximas Copas do Mundo, prevista para o dia 2 de dezembro de 2010.

"Estas denúncias poderão desacreditar o procedimento de tomada de decisões da Fifa, já que tomar uma decisão nas atuais circunstâncias apenas serviria para alimentar a polêmica".

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A COPA NÃO PODE SER UM NEGÓCIO SÓ DA FIFA

O Brasil e a Copa de 2014

Além do futebol em campo País deverá se preocupar com gastos e questões ligadas a infraestrutura

Por René Ruschel*

A Copa do Mundo de 2014 certamente será um tema obrigatório no cotidiano dos brasileiros nos próximos quatro anos. Só que desta vez o interesse não deve estar centrado apenas no trabalho da Comissão Técnica da CBF ou na relação dos jogadores convocados. Além do futebol, o que estará em jogo é um projeto que envolve bilhões de dólares a serem gastos com recursos públicos em obras de infraestrutura para atender as exigências da Fifa – o órgão máximo do futebol mundial. Para se ter uma idéia da grandiosidade do evento, uma primeira avaliação dos investimentos federais e dos estados e municípios envolvidos diretamente na organização somaram US$ 14 bilhões.

Outro estudo divulgado pela Associação Brasileira da Infraestrutura e da Indústria de Base – Abdib estimou a conta bem mais salgada: US$ 57 bilhões. A julgar pelos precedentes históricos estes valores podem ser ainda maiores. O campeonato Pan Americano de 2007, realizado na cidade do Rio Janeiro, estava orçado em R$ 400 milhões, mas conta final apresentada ao governo foi superior a R$ 4 bilhões. No caso dos estádios de futebol, a estimativa inicial da CBF era que os custos seriam de R$ 3,7 bilhões pagos integralmente pela iniciativa privada, ou seja, sem dinheiro público. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, esses valores já subiram para R$ 5,07 bilhões, cerca de US$ 3 bilhões. Se levarmos em conta a tradição verde-amarela nos negócios envolvendo governo e iniciativa privada a nota fiscal pode ser bem maior. Para o campeonato mundial da França, em 1998, os custos de construção ou reformas de estádios foram de US$ 2,6 bilhões; na Coréia do Sul e Japão, em 2002, US$ 2,0 bilhões; na Alemanha em 2006, US$ 1,8 bilhão e na África do Sul US$ 3,0 bilhões. Como se vê, no quesito desperdício saímos na frente.

Acobertado pela paixão popular, o futebol brasileiro tornou-se uma caixa preta, um negócio bilionário que nos últimos 50 anos tem sido comandado por uma dinastia familiar. Primeiro, foi João Havelange, presidente da CBD e sua sucedânea, CBF, entre 1956 e 1974. Depois, presidiu a Fifa, entre 1974 e 1998. Em 1989, assumiu a presidência da CBF seu então genro, Ricardo Teixeira, que ainda permanece à frente da instituição e agora acumula a função de presidente do Comitê Organizador Local – COL, órgão responsável pela fiscalização das obras relacionadas à Copa de 2014. O Colegiado é composto por 6 pessoas. Além de Teixeira, a secretária-executiva é sua filha, Joana Havelange e o diretor-financeiro, Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e administrador de seu patrimônio pessoal. Convêm lembrar que esse seleto e probo grupo presta contas somente a Fifa e não possui nenhuma representação da sociedade civil ou do poder público.

A Copa do Mundo não pode ser um negócio exclusivo da Fifa. O mundial de 2010, ainda segundo a revista, encheu os cofres da instituição com 3,2 bilhões de dólares e deixou para o governo da África do Sul um prejuízo de 1,1 bilhão. No Brasil, a briga começou pela cidade de São Paulo. A CBF vetou o projeto de reformas previstas para o estádio do Morumbi e agora parece ter convencido as autoridades paulistas a financiar com dinheiro público a construção do “Itaquerão”, um elefante branco particular no valor estimado de quase US$ 600 milhões. Aliás, uma pergunta: o que fazer com todos esses após o evento. Capitais como Cuiabá e Manaus, cidades sem nenhuma tradição no futebol, devem investir juntas cerca de US$ 500 milhões na construção de seus estádios. Já existe algum projeto de uso destas estruturas após a conclusão do campeonato mundial?

Em entrevista concedida a Rede Globo logo após o fracasso da seleção de Dunga, Ricardo Teixeira afirmou sem meias palavras que era preciso fazer uma renovação na CBF. Poucas vezes um dirigente da entidade foi tão claro, conciso e objetivo. Só esqueceu – e os jornalistas da emissora curiosamente não questionaram – porque a mudança não começava por ele próprio, que há 21 anos comanda o futebol brasileiro.

*René Ruschel é jornalista em Curitiba

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

COMUNICAÇÃO DÉFICIT DE ATENÇÃO E MÍDIA DIGITAL

Comunicação, déficit de atenção e mídia digital, por Monica MartinezImprimirE-mail

Ontem tive a oportunidade de participar de dois eventos importantes. O primeiro, no campus Liberdade da FMU, foi uma palestra do psiquiatra Leandro Thadeu Garcia Reveles, do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (Sepia) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Os transtornos baseados na tríade desatenção, impulsividade e hiperatividade – conhecidos como TDAH – são a especialidade do médico.

Quase ao término da palestra, Reveles lembrou que o mundo digital é altamente danoso para as crianças e adolescentes que sofrem com o problema – que atinge 5 a 7% da população mundial. “O hiperfoco – todos os sentidos voltados para algo externo – propiciados por computadores e videogames são uma praga para quem tem TDAH”, alerta o especialista.

Na sequência, tive a oportunidade de ouvir uma conferência de um especialista na área de Comunicação, o sociólogo Dominique Wolton, em evento realizado na Faculdade Cásper Líbero em parceria com a Aliança Francesa e o Universo do Conhecimento. Pesquisador do prestigiado Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS), desde 2000 ele dirige um laboratório sobre informação e comunicação naquele instituto. O autor de É Preciso Salvar a Comunicação (Paulus), entre outros títulos, não é otimista quanto à parceria entre mundo digital e os processos comunicativos. “Não é verdade que, quanto mais tecnologia e mais informação, haja mais comunicação. É uma armadilha pensar que o aumento da produção e da velocidade representa um progresso”, adverte. “Há 6 bilhões de pessoas no planeta, destas 5 bilhões têm acesso à televisão e 3 bilhões à internet, e não estamos nos comunicando melhor por causa disto”.

Para Wolton, a Comunicação é a grande questão do século 21. E ela tem dois pontos principais no que tange à globalização. O primeiro é político: as pessoas não compartilham a mesma visão. A rede estadunidense CNN, diz ele, simplesmente é um paradigma de como a notícia é percebida pela opinião dos norte-americanos. O segundo ponto é cultural: “a biodiversidade existe e deve ser respeitada”. Segundo o sociólogo, a grande questão da comunicação é a descoberta da alteridade. Sim, ele diz, arrancando risadas da plateia, ela não é simples nem mesmo entre casais – o que dirá entre povos. “Já que é complicado entre os homens, multiplicam as técnicas”, ironiza.

Neste contexto da informação rápida e acessível, Volton lembra que é preciso tempo para que um entenda o outro. Para ele, jovens que andam com fones de ouvido, escutando música, agem como autistas. “É como a tirania da câmera digital: quem faz centenas de fotografias digitais não vê a realidade”.

A meu ver, este foi o ponto que uniu ambas as palestras. Tanto o hiperfoco da criança com TDAH quanto a visão do mundo mediada por aparatos virtuais em todas as faixas etárias estão causando um descolamento da realidade. A pesquisa Criança e Natureza, realizada pelos pesquisadores Dorothy e Jeromy Singer, da Universidade de Yale, publicada na edição de 25 de outubro de 2010 da revista Época, é um exemplo. Foram 2 233 entrevistados – mães e filhos de 8 a 12 anos de 11 países, incluindo o Brasil –, sendo que 45% das crianças disseram aprender mais sobre a natureza vendo vídeos, filmes e televisão. Embora 99% dos adultos reconheçam a importância do contato com a natureza, poucos conseguem concretizá-lo na prática. Fenômeno que, segundo a revista, tende a aumentar uma vez que 50% da população mundial atual more em centros urbanos, número que deve saltar para 65% em 2030.
E o que isto tem a ver com jornalismo? Tudo. Neste semestre, por exemplo, fiquei surpresa ao sugerir um exercício simples, no qual os alunos deveriam por 20 minutos sair da classe, observar o ambiente e escrever um relato num texto muito curto, como se fosse para o twitter. Detalhe: tratava-se de uma manhã de inverno excepcionalmente quente, beirando os 30 graus. Resultado: entre os textos, alguns falavam de manhãs frias e chuvosas, como se a idéia pré-concebida de um dia invernal fosse mais forte do que os fatos observados. Livres dos aparatos midiáticos, dos celulares e afins, e baseados apenas em seus sentidos – visão, audição, olfato, tato e paladar –, alguns alunos sentiram dificuldade em fazer uma leitura o mais fiel possível da realidade.

Ora, se isso ocorre num texto livre, o que não estará acontecendo nas coberturas jornalísticas, onde a observação é um dos elementos-chave para a interpretação das complexas mediações simbólicas? Volton, talvez brincando, sugere uma greve aos aparatos virtuais, aos e-mails e câmeras digitais. Bom, nem tanto ao céu – o uso ilimitado – nem tanto a terra (fim aos meios digitais). O próprio sociólogo lembra que os verbos fundamentais em comunicação contemporânea são negociar e coabitar.

Neste sentido, talvez a recomendação para uma humanidade que se encontra na adolescência no uso das mídias digitais não seja a de abolir o uso – afinal muito dele é extremamente oportuno –, mas simplesmente o de empregá-las com discernimento. Nada muito diferente, aliás, do que se fazia com o uso do telefone antes do surgimento da internet.

Profa. Dra. Monica Martinez
Jornalista, escritora e professora universitária
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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

BOAVENTURA SANTOS: A ORDEM ECONÔMICA-FINANCEIRA DOS PÓS GUERRA ESTÁ COLAPSANDO

Boaventura Santos: “A ordem econômica-financeira do pós-guerra está colapsando”

15/11/2010 |

A História da Austeridade

A recente reunião do G-20 em Seul foi um fracasso e mostrou que a ordem econômico-financeira criada no final da Segunda Guerra Mundial está colapsando, indicando no horizonte a eclosão de graves conflitos comerciais e monetários. Por toda a parte, os cidadãos vão são sendo bombardeados pelas mesmas ideias de crise, de tempo de austeridade, de sacrifícios compartilhados. O que não é dito é mque a crise foi provocada por um sistema financeiro desregulado, chocantemente lucrativo e tão poderoso que, no momento em que explodiu e provocou um imenso buraco financeiro na economia mundial, conseguiu convencer os Estados (e, portanto, os cidadãos) a salvá-lo da bancarrota e a encher-lhe os cofres sem lhes pedir contas. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos.

por Boaventura de Sousa Santos, em Carta Maior

A recente reunião do G-20 em Seul foi um fracasso total. Chegou a ser constrangedora a perda de credibilidade dos EUA, como suposta economia mais poderosa do mundo, e o modo como tentaram acusar a China de comportamentos monetários afinal tão protecionistas quanto os dos EUA. A reunião mostrou que a “ordem” econômico-financeira, criada no final da Segunda Guerra Mundial e já fortemente abalada depois da década de 1970, está a colapsar, sendo de prever a emergência de conflitos comerciais e monetários graves. Mas curiosamente estas divergências não têm eco na opinião pública mundial e, pelo contrário, um pouco por toda a parte os cidadãos vão sendo bombardeados pelas mesmas ideias de crise, de tempo de austeridade, de sacrificos repartidos. Há que analisar o que se esconde por detrás deste unanimismo.

Quem tomar por realidade o que lhe é servido como tal pelos discursos das agências financeiras internacionais e da grande maioria dos Governos nacionais nas diferentes regiões do mundo tenderá a ter sobre a crise econômica e financeira e sobre o modo como ela se repercute na sua vida as seguintes ideias: todos somos culpados da crise porque todos, cidadãos, empresas e Estado, vivemos acima das nossas posses e endividamo-nos em excesso; as dívidas têm de ser pagas e o Estado deve dar o exemplo; como subir os impostos agravaria a crise, a única solução será cortar as despesas do Estado reduzindo os serviços públicos, despedindo funcionários, reduzindo os seus salários e eliminando prestações sociais; estamos num periodo de austeridade que chega a todos e para a enfrentar temos que aguentar o sabor amargo de uma festa em que nos arruinamos e agora acabou; as diferenças ideológicas já não contam, o que conta é o imperativo de salvação nacional, e os políticos e as políticas têm de se juntar num largo consenso, bem no centro do espectro político.

Esta “realidade” é tão evidente que constitui um novo senso comum. E, no entanto, ela só é real na medida em que encobre bem outra realidade de que o cidadão comum tem, quando muito, uma ideia difusa e que reprime para não ser chamado ignorante, pouco patriótico ou mesmo louco. Essa outra realidade diz-nos o seguinte. A crise foi provocada por um sistema financeiro empolado, desregulado, chocantemente lucrativo e tão poderoso que, no momento em que explodiu e provocou um imenso buraco financeiro na economia mundial, conseguiu convencer os Estados (e, portanto, os cidadãos) a salvá-lo da bancarrota e a encher-lhe os cofres sem lhes pedir contas. Com isto, os Estados, já endividados, endividaram-se mais, tiveram de recorrer ao sistema financeiro que tinham acabado de resgatar e este, porque as regras de jogo não foram entretanto alteradas, decidiu que só emprestaria dinheiro nas condições que lhe garantissem lucros fabulosos até à próxima explosão. A preocupação com as dívidas é importante mas, se todos devem (famílias, empresas e Estado) e ninguém pode gastar, quem vai produzir, criar emprego e devolver a esperança às famílias?

Neste cenário, o futuro inevitável é a recessão, o aumento do desemprego e a miséria de quase todos. A história dos anos de 1930 diz-nos que a única solução é o Estado investir, criar emprego, tributar os super-ricos, regular o sistema financeiro. E quem fala de Estado, fala de conjuntos de Estados, como a União Europeia e o Mercosul. Só assim a austeridade será para todos e não apenas para as classes trabalhadoras e médias que mais dependem dos serviços do Estado.

Porque é que esta solução não parece hoje possível? Por uma decisão política dos que controlam o sistema financeiro e, indiretamente, os Estados. Consiste em enfraquecer ainda mais o Estado, liquidar o Estado de bem-estar onde ele ainda existe, debilitar o movimento operário ao ponto de os trabalhadores terem de aceitar trabalho nas condições e com a remuneração unilateralmente impostas pelos patrões. Como o Estado tende a ser um empregador menos autônomo e como as prestações sociais (saúde, educação, pensões, previdencia social) são feitas através de serviços públicos, o ataque deve ser centrado na função pública e nos que mais dependem dos serviços públicos. Para os que neste momento controlam o sistema financeiro é prioritário que os trabalhadores deixem de exigir uma parcela decente do rendimento nacional, e para isso é necessário eliminar todos os direitos que conquistaram depois da Segunda Guerra Mundial. O objetivo é voltar à política de classe pura e dura, ou seja, ao século XIX.

A política de classe conduz inevitávelmente à confrontação social e à violência. Como mostram bem a recentes eleições nos EUA, a crise econômica, em vez de impelir as divergências ideológicas a dissolverem-se no centro político, agrava-as e empurra-as para os extremos. Os políticos centristas (em que se incluem os políticos que se inspiraram na social democracia europeia) seriam prudentes se pensassem que na vigência do modelo que agora domina não há lugar para eles. Ao abraçarem o modelo estão a cometer suicídio. Temos de nos preparar para uma profunda reconstituição das forças políticas, para a reinvenção da mobilização social da resistência e da proposição de alternativas e, em última instância, para a reforma política e para a refundação democrática do Estado.

(*) Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

domingo, 14 de novembro de 2010

ERRADICAR A MISÉRIA 21 BI

domingo, 14 de novembro de 2010

Erradicar pobreza custaria mais R$ 21 bilhões

Erradicar pobreza custaria mais
R$ 21 bi

Promessa de Dilma é viável, mas depende do mercado de trabalho e da ampliação do gasto anual com o Bolsa Família

No país, é considerado pobre quem vive com uma renda familiar per capita até R$ 140; cesta básica chega a R$ 254

Leo Caldas/Folhapress
O pescador Carlos Jorge Wanderley e sua família em Porto das Pedras, em AL

FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO

A maior promessa de campanha da presidente eleita Dilma Rousseff (PT), de acabar com a miséria no Brasil em seu governo, é muito ambiciosa, mas factível, avaliam especialistas da área.
Isso depende de duas premissas: o mercado de trabalho continuar se expandindo na velocidade dos últimos anos (algo considerado muito difícil); e o novo governo ampliar o gasto com o Bolsa Família (onerando ainda mais o Orçamento).
O programa consome R$ 13,4 bilhões ao ano e atende 12,7 milhões de famílias. Isso equivale a 0,4% do PIB, o que é considerado pouco.
Mas a chave para Dilma cumprir sua promessa está no mercado de trabalho. Quanto menos dinâmico, mais o governo teria de colocar dinheiro focalizado nos pobres para atingir a meta.
Se o Brasil quisesse eliminar hoje seus pobres e indigentes, teria de localizar essas pessoas e gastar com elas mais R$ 21,3 bilhões ao ano -em cima dos R$ 13,4 bilhões do Bolsa Família, segundo cálculos do Centro de Políticas Sociais da FGV.
Para financiar isso, o custo médio rateado entre os brasileiros seria de R$ 9,33 ao mês.
São considerados pobres no Brasil (tendo por base os critérios do Bolsa Família) indivíduos ou famílias que têm renda per capita menor do que R$ 140 ao mês (R$ 4,60 ao dia). Para os indigentes, o corte é de R$ 70 (R$ 2,30).
Na hipótese de uma família de quatro pessoas com renda mensal de R$ 400 (R$ 100 por pessoa), o governo federal teria de destinar R$ 160 (R$ 40 por cabeça) a ela para que todos ultrapassassem a linha de pobreza.
Acréscimos como esse, a todos os pobres, custariam os R$ 21,3 bilhões ao ano, segundo números do economista Marcelo Neri, da FGV.
Hoje, cerca de 30 milhões de pessoas (15,5% da população) vivem com menos de R$ 140 ao mês. Há dez anos, eram 57 milhões (33,3%).

MERCADO
A queda quase à metade ocorreu, principalmente, pela substancial melhora do mercado de trabalho.
Mais de 70% da elevação da renda média vem do trabalho (R$ 0,70 para cada R$ 1 de aumento). Dos gastos da Previdência, são 24%. Do Bolsa Família, 5,3%.
No governo Lula foram criados quase 14 milhões de empregos formais. Já o salário mínimo subiu 53% acima da inflação (R$ 510 hoje).
O aumento do mínimo tem impacto direto limitado na erradicação da pobreza. Mas contribui para elevar consumo, produção e emprego.
Para Clemente Ganz Lúcio, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), é até possível manter o ritmo de aumento do mínimo se a economia crescer cerca de 5% ao ano no governo Dilma.
O problema é o emprego, principal motor para a redução da pobreza.
"Entre 2007 e 2008, para cada 1 ponto percentual de aumento do PIB a ocupação também aumentava 1 ponto. Daqui para frente, essa correlação tende a ser de 1 para 0,5 ou 0,7", diz Lúcio. "Por conta do aumento da produtividade, teremos menos empregos gerados para cada ponto de crescimento do PIB."
Se isso ocorrer, a promessa de Dilma dependerá mais de recursos públicos a serem alocados no Bolsa Família.
O problema adicional é que até o Ministério do Desenvolvimento Social considera baixo o corte de R$ 140 para definir pobreza. Em novembro, como comparação, a cesta básica variou de R$ 172 (Aracaju) a R$ 254 (São Paulo), segundo o Dieese.

A LUTA DE CLASSES E O ENEM

Do Diário Gauche sobre o ENEM,
Penso que é a realidade que encontramos em todo o Brasil, muitos por desinformação embalada pelo PIG acabam entrando nesta onda.
Jeff

Ontem à tarde, em Santa Maria, região central do estado
do Rio Grande do Sul, aconteceu uma manifestação de estudantes que frequentam cursinhos de ensino privado de nível pré-universitário. O ótimo vídeo acima (feito pelo Diário de Santa Maria/RBS) mostra quem são esses alunos, todos brancos e filhos da classe média capacitada a pagar ensino privado para os seus filhos e filhas. Veja se você encontra um/a negro/negra nesta multidão de branquinhos com indumentária up to date e de griffe? Procure bem. Veja de novo. Essa rapaziada tem cheiro de Mickey Mouse, no entanto, protestam contra a Universidade Federal de Santa Maria para que a política de cotas seja revista e rejeitada pela Reitoria.

É disso que se trata: luta de classes e, sobretudo, luta de raças.

Hoje pela manhã, tivemos informação que alunos dos cursos privados Universitário, Unificado e Anglo estão visitando escolas públicas da rede estadual de ensino de Porto Alegre visando mobilizar estudantes para uma grande manifestação contra o Enem, nos próximos dias. A coisa tem cheiro de pau-mandado.

É de estranhar que - subitamente - desperte a chama da indignação política em alunos de cursinhos pré-universitários, sabidamente virgens do espírito combativo do reconhecido e autêntico movimento estudantil brasileiro, vanguarda permanente em todas as grandes lutas políticas do Brasil, nos últimos setenta anos (desde 1937, pelo menos, quando da fundação da UNE).

De qualquer forma, é de se estimular a politização dos estudantes da direita brasileira, mesmo que estejam claramente instrumentalizados pelos interesses (ocultos) dos proprietários de escolas privadas de ensino, em todos os graus. O debate aberto e sincero, o conflito mesmo, entre os interesses que se chocam neste episódio do Enem é o melhor caminho para as soluções estratégicas de que necessita a nossa política educacional.

Estudantes brancos, filhinhos de papai e alienadinhos de todo o gênero: bem-vindos à luta de classes! O tio Mickey se orgulha de vocês!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

PATRICINHA FASCISTA TEXTO DO JUREMIR

Patricinha fascista


A estupidez está sempre ao alcance de todos. Mayara Petruso, patricinha paulista, estudante de Direito, saiu do anonimato para fama, via Twitter, graças a um coice na inteligência nacional. Indignada com a vitória de Dilma Rousseff, a moça disparou este petardo: "Nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado. Tinham que separar o Nordeste e os bolsas-vadio do Brasil (...) Construindo câmaras de gás no Nordeste, matando geral". No Facebook, a burrinha racista se atolou um pouco mais: "Afunda, Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar vagabundos que fazem filhos pra ganhar bolsa 171". Mayara já perdeu o emprego no escritório onde trabalhava e sofrerá ação judicial protocolada pela OAB.

Alguns jovens universitários paulistas têm revelado um grau superior de idiotice. Depois da turminha que hostilizou uma guria por causa da sua minissaia, apareceu o bando do "rodeio das gordas", propondo tratar meninas obesas como animais. E agora entra em cena a tal Mayara. O escândalo maior é imaginar que isso representa uma opinião média difundida na Internet. Como será que a mulinha Mayara explica a vitória de Dilma em Minas Gerais? Achar que as ajudas sociais são incentivos à vagabundagem é típico de uma elite primitiva ou de uma classe média ignorante. Qualquer país civilizado, a começar por França, Alemanha, Inglaterra e, evidentemente, países escandinavos, oferece mais ajudas sociais que o Brasil. Não adianta ir à Europa só para comprar bolsas Vuitton. É preciso espiar o cotidiano.

Quem não recebeu e-mails dizendo que Dilma não podia ser candidata por ter nascido na Bulgária? Quantos analistas têm por aí sugerindo que os nordestinos são subeleitores que votaram com o estômago? Quando um empresário escolhe um candidato seduzido pela possibilidade de redução de impostos, o que é legítimo, não se trata de voto por interesse? Não é voto com o bolso? Quando ruralistas votam num candidato na esperança de conseguir mais incentivos, o que é comum, não é voto interesseiro? Mayara não deixa de ser o produto de uma estratégia perigosa, a divisão ideológica entre bem e mal. Foi essa perspectiva, cara ao vice Índio da Costa, que José Serra adotou. A revista Veja e o jornal Estado de S. Paulo deram aval a essa idiotice retrógrada. Uau!

O PSDB, que nasceu pretendendo ser moderno e racional, podia mais. Veja, que se acha mais moderna do que os modernos, acabou por produzir leitores Mayara. Isso não tem a ver com partidarismo como imaginam os mais simplórios ou ideológicos. Eu jamais terei partido. Meu único capital é a independência selvagem. Sou a favor do voto de castidade partidária para jornalistas. Tudo pela liberdade de dizer que quem acha o Bolsa-Família um incentivo à vadiagem pensa como Mayara. Esse foi o principal erro tucano na campanha eleitoral: ter guinado à direta para tentar seduzir as Mayaras, que arrastaram um intelectual progressista como Serra para o reacionarismo rasteiro do Estadão e da Veja. Mayaras, nunca mais!

Juremir Machado da Silva

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PROGRAMAÇÃO DA PRIMAVERA CULTURA LIVRE

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Primavera Cultura Livre II



Apesar do calor e frio que tem feito nos últimos dias na cidade de Pelotas, ainda estamos na primavera e como o nome sugere esse ano acontece a segunda edição da Primavera Cultura Livre.

Em 2009, ainda na luta pela aprovação da Lei municipal de Incentivo a Cultura, reunimos a galera que gosta, se interessa, trabalha e vive cultura. Recebemos a presença do diretor do Fumproarte (Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre), também do Secretário de Cultura de Pelotas, Mogar Xavier, e assim realizamos uma semana de discussões, painéis com temas como: teatro, dança e cinema em Pelotas; propriedade intelectual, crise na indústria fonográfica, democratização da informação e comunicação; movimento pró cultura em Pelotas, etc. Além de diversos shows, intervenções teatrais e práticas circenses. Uma parceria entre a Satolep Circus, Amiz, Moviola filmes, Casa do Joquim, RadioCom e Sesc.

Esse ano não deixando o propósito de lado, que ainda é discutir cultura, começamos a programação no dia 16/11 (terça-feira), estendendo-se até o dia 21/11 (domingo). Com mais novidades, novas parcerias, novas ideias!


A idéia da PCLivre em sua segunda edição é tratar de dois temas específicos, quais sejam, Articulação e fomento de redes culturais e economia da cultura.; Ano passado problematizamos estes temas, e este ano pensamos em avaliar os avanços e as efetividades das redes culturais que estamos imbricados. Para isso, faremos uma reflexão sobre redes internacionais, nacionais e locais, bem como problematizar a economia da cultura livre (propriedade intelectual e produção independente).

Segue então a programação sujeita a alterações principalmente nos dias que vão de 18 a 20 de Novembro.


16/11/10

14:30: Painel - Redes Culturais e Cultura Livre
local: bistrô da Secult (Praça Coronel Pedro Osório, 02).
Síntese do debate e participantes:
Florismar Oliveira tomaz - Rede EmComum (rede internacional FSM expandido - comunidades populares) falar sobre as redes internacionais que estamos articulando via FSM a alguns anos; depois o Miguel Isoldi - Rede Geribanda / FURG (rede pontos de Cultura da região sul e centro sul) falar sobre as políticas públicas do governo federal (Pontos de Cultura) e e atuação da FURG - Geribanda como articuladora desta rede na região sul e centro sul; o Marcelo Cougo - Rede Sopapo, falar sobre a rede sopapo cultura negra e a articulação em rede que viemos fazendo a alguns anos entre porto alçegre e pelotas via Coletivo Catarse, Ponto de cultura ventre livre e quilombo do sopapo e Fórum música parfa baixar; o Mogar Xavier - Secretário de Cultura Pelotas, falar sobre lei de incentivo a cultura municipal e as políticas públicas municipais para cultura; o Mano Val - Rede Procultura, falar sobre o movimento local procultura que a alguns anos vem ganhando força e se efetivando como rede local e global; o Guto Fonseca - Posto Cidadão capaz, falar sobre a importância da participação da iniciativa privada no fomento cultural; o Rodrigo Nunes, encerra falando sobre a Economia da Cultura Livre e os temas da propriedade intelectual (licenças creatives comms e produção independente); e eu Herberto Betinho - Mediador.


18:30: Projeto Massimiliano
local: Esquina da Rua XV de Novembro com Marechal Floriano.

17/11/10
21:00Hs - Lançamento Ponto de Cultura Outro Sul;
22:00Hs - Cinema Independente (Pré lançamento festival de cinema Manuel Padeiro);
23:00Hs - Jan Session com músicos locais e atuantes do ponto de cultura outro sul;

Músicos - Rodrigo Garcia, Edu da Matta, Dija Vaz, Davi Batuka e convidados
local: Cervejaria Santa Marta (Dom Pedro II, 706).
21/11/10
10:00Hs - Feira Economia Popular e Festival de Música
local: Praça Coronel Pedro Osório.

Músicos e Bandas - Meigos Vulgos e Malvados, Freak Brotherz, Unidos pelo Rap, Reagge da Luta, Luiz Vagner, Lara Rossato, Marco Gotinari, Vade Retrô, Canastra Suja, Apanhador Só, Da Silva, Kako Xavier, Be Livin, Federação Galática;
Feira Livre - Porventura, Cry Baby, Feira ao Quadrado, Comidas Vegan, Gringa, Cozinha CDD, e Mostra de trabalho dos artistas (CDs).
Atividades Paralelas
19/11 - 14:00 h Oficina de Sopapo Richard Serraria (Local a confirmar) // 17 horas conversa 10 anos CABOBU e Cultura Negra (Radio Com 104.5 FM - ao vivo escute);
20/11 Todo dia oficina de candomble - Uruguai todo o dia (Atelier de música Mario Maia) // 20 horas Show Bataclã FC PoA - via sesc pelotas (largo do mercado púbilco);
27/11 Toda tarde sábado cultural Cultura Negra Loteamento Dunas.

Um pouco sobre a epsteme Primavera Cultura Livre / PCL.primavera1.jpg

Surge da necessidade de Glocalizar Pelotas / Conectar os movimentos e expressões culturais pelotenses ao momento contemporâneo de resistência glocal* ao mundo Neoliberal; Resistir ao Neoliberalismo a partir do uso das novas TIC** e de novos entendimentos éticos e práticos nas relações sociais contemporâneas que andamos atualmente reforçando em nossos diversos movimentos.

A partir do Eixo Temático ECONOMIA DA CULTURA LIVRE - FOMENTAÇÃO E ARTICULAÇÃO DE REDES GLOCAIS, a PCL traz discussões e práticas a fim de que sirvam como experiências e permitam a conexão entre processos de resistência. Cabe salientar redes locais - regionais - nacionais - internacionais importantes que vem nos motivando por estarem também articulando os locais nesta perspectiva, entre elas algumas que estarão presente a Primavera Cultura Livre / PCL como a Rede Vidadania e Movimento ProCultura Pelotas (só para dar dois exemplos daqui de Pelotas), e outros em nível mais globais como o FMPB (Música para baixar) que agora no último Fisl 2009 se fez presente (e atualmente realiza diversas outras articulações fortalecendo estas redes, e agora estará vindo a Pelotas pela Primavera Cultura Livre/PCL).

Podemos também citar aqui, outra articulação em rede que também estará representada neste movimento PCL o Circuito Fora do Eixo que é uma rede de trabalhos concebida por produtor@s culturais das regiões centro-oeste, norte e sul do Brasil para estimular a circulação de bandas, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos.

E mais recentemente sobre a Rede Pontos de Cultura da Região sul e centro sul, via geribanda FURG, que são 16 pontos de cultura que começam a operacionalizar agora ainda em 2010.

O projeto Outro Sul na íntegra acesse aqui.

OS ESTATUTOS DO HOMEM THIAGO DE MELLO

Conheci a poesia de Thiago de Mello ainda estudante/militante do mov. estudantil da Universidade, este poema ainda me emociona, espero que aos amig@s também.

Boa leitura

Estatutos do Homem - Thiago de Mello

Estatutos do Homem

Art.1. Fica decretado que agora vale a verdade,
que agora vale a vida
e que de mãos dadas
trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Art.2. Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de Domingo.

Art.3 . Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Art.4. Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Par. único: O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Art.5. Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura das palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Art.6. Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto da aurora.

Art.7. Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Art.8. Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que da a planta o milagre da flor.

Art.9. Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor de ternura.

Art.10. Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida
o uso do traje branco.

Art.11. Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Art.12. Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
Tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Par. único: Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Art.13. Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará
em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Art. Final: Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano do engano das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.



Thiago de Mello é o mais influente poeta da Amazônia. Sua poesia é reconhecida nacional e internacionalmente, possui obras publicadas em mais de 60 paises. Durante a ditadura Politica/Militar foi preso e teve que exilar-se no Chile e depois na Alemanha. Publicou mais de 50 livros entre os quais: Silêncio e Palavra, Narciso Cego, Estatuto do Homem, Faz Escuro Mas Eu Canto, Num Campo de Margaridas e outros. Reside no municipio de Barreirinha, Am, numa casa projetada por Lúcio Costa, o mesmo que projetou as ruas de Brasilia, ás margens do rio Andirá. Esta com 83 anos. Thiago é o orgulho intelectual do Amazonas, da Amazônia e do Brasil.

ENEM SOFRE OFENSIVA DE INTERESSES LIGADOS À INDÚSTRIA DO VESTIBULAR

ENEM sofre ofensiva de interesses ligados à indústria do vestibular

Na avaliação do sociólogo e consultor na área de educação, Rudá Ricci (foto), há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional. "Uma prova nacional permite que o país trace objetivos de política educacional", defende. Entre os setores interessados economicamente, segundo ele, estão as próprias universidades, que arrecadam em matrículas, os professores que produzem questões fechadas e abertas, e os cursos preparatórios para o vetibular.

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual

São Paulo – O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sofre uma ofensiva de interesses, segundo o sociólogo e consultor na área de educação Rudá Ricci. Ele enumera grupos e setores do que chama de "indústria do vestibular", de cursos preparatórios a docentes encarregados de formular as provas. Para ele, há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional.

"Uma prova nacional permite que o país trace objetivos de política educacional", esclarece. Um vestibular nacional do ponto de vista da aplicação e do conteúdo promove um impacto no ensino médio, de modo a reverter problemas dessa faixa da educação.

Para ele, os vestibulares descentralizados, feitos por cada universidade, provocam danos à educação, já que o ensino médio e mesmo o fundamental direcionam-se às provas, e não à formação em sentido mais amplo. "O ensino médio é o maior problema da educação no Brasil, é o primeiro da lista, com mais evasão, em uma profunda falência", sustenta.

"O Enem faz questões interdiciplinares, é absolutamente técnico, é super sofisticado", elogia. Os méritos estariam em privilegiar o raciocínio à memorização de conteúdos. Isso permitiria que o ensino aplicado nas escolas fosse além do preparo para enfrentar provas de uma ou outra universidade.

O Enem traz uma "profunda revolução", na visão de Rudá, "ao combater profundamente a concepção pedagógica e política de vestibulares por universidade". Ao se aproximar dessa concepção nacional – fato que aconteceu apenas nos últimos anos –, interesses de grupos educacionais foram colocados em xeque, o que desperta ações contrárias.

Entre os setores interessados economicamente, segundo ele, estão as próprias universidades, que arrecadam em matrículas, os professores que produzem questões fechadas e abertas, e os cursos preparatórios para o vetibular.

Controle social
Ricci critica a postura do ex-ministro da Educação, Paulo Renato, e da ex-secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro. O sociólogo taxa os comentários feitos pelos especialistas ligados ao PSDB como "oportunismo". Isso porque, segundo ele, o uso da prova como seleção e seu caráter nacional, hoje criticados pelos tucanos, foram objetivos perseguidos durante a gestão de Renato na pasta, de 1995 a 2002.

O que ele considera como mudança de postura é resultado da disputa política, que faz com que os estudantes passem a rejeitar o exame. "Os jovens não querem mais essa bagunça. E têm razão", pontua.

"Existe uma movimentação para politizar esse tema; vamos ter o avanço de uma oposição organizada, que junta as forças políticas que perderam a eleição nacional com escolas particulares, cursinhos que têm muito interesse na manutenção do sistema de vestibular", avalia.

O sociólogo defende o modelo de exame nacional, mas acredita que a fórmula possa ser aprimorada, seja com mais dias de provas, seja com provas aplicadas a cada ano do ensino médio. Ele aponta ainda que houve um desvirtuamento da proposta interdisciplinar e sofisticada, empregada originalmente, em função da necessidade de expandir a prova. Em 2010, foram 4,6 milhões de inscritos.

Ele acredita que a postura de críticas deve-se às diferenças partidárias. "Estão politizando o Enem, politizando o ingresso na universidade e o conteúdo da prova", lamenta. "Seria interessante ter um órgão que execute o exame sob controle social, não de governo, nem de empresas", sugere.

"A solução é nós discurtirmos nacionalmente esse gerenciamento em um modelo como o americano para o vestibular nacional", defende. O SAT, usado como método de seleção nos Estados Unidos, é aplicado por agentes privados de modo controlado pelo departamento de educação federal. Além de poder ser aplicado em dias diferentes, cartas de recomendação de professores e outros instrumentos também são considerados na seleção por parte de universidades.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

BRASIL E URUGUAI: AS MARCAS DA REPRESSÃO E OS DIREITOS HUMANOS

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Brasil e Uruguai: As Marcas da Repressão e os Direitos Humanos

As ditaduras militares, as memórias, as lutas e os esquecimentos. Com contextualizações no eixo Brasil-Uruguai, o professor Enrique Padrós trouxe temas como esses à discussão na noite do último dia 3


Como parte da programação dos 135 anos da Bibliotheca Pública Pelotense, o Instituto de Estudos Políticos Mário Alves (IMA) abordou a ditadura militar como foco de discussão no encontro que teve a presença do professor de História da UFRGS, Enrique Serra Padrós.

“Brasil e Uruguai: As Marcas da Repressão e os Direitos Humanos” foi o tema que deu força a assuntos que o Enrique abordou. Em sua fala, o professor analisou a cultura de luta enraizada no Uruguai e na Argentina, para a reparação do período ditatorial, diferentemente da realidade do Brasil que ainda se encontra num contínuo atraso de busca por punições e discussões sobre o assunto. Com ligações a histórias de partidos brasileiros, mídia de massa cumprindo um papel muito perigoso na influência da opinião pública e a preocupação que - ainda com um governo avançado, o tema da ditatura militar não tenha sido uma preocupação nos anos do governo Lula, o professor atentou para o esquecimento que o Brasil vive em sua memória sobre o período de mortes e repressão daqueles que buscavam liberdade.

.


Participaram da mesa Getúlio Matos (representante da Bibliotheca);
Lauro Borges (representante do IMA) e o palestrante Enrique Padros.


“Só vos peço uma coisa: se sobreviverdes a esta
época, não vos esqueçais nem dos bons, nem dos
maus(..) Eles eram pessoas e tinham nomes, rostos,
desejos e esperanças, e a dor do último não
era menor do que a dor do primeiro, cujo nome há
de ficar...”

(Júlio Fuchik, 1980)

GABRIEL O PENSADOR 1993 - RACISMO É BURRICE

Gabriel o Pensador (1993): ‘racismo é burrice’

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Em 1993, o compositor e vocalista Gabriel o Pensador já cantava que “racismo é burrice” no rap “Lavagem Cerebral”. Abaixo, primeiro a letra e, depois, o vídeo com a música. Quem sabe aliviem a repugnância que fatos recentes geraram em pessoas decentes.

——-

Lavagem Cerebral

Gabriel Pensador

Composição: Gabriel, O Pensador

Racismo preconceito e discriminação em geral

É uma burrice coletiva sem explicação

Afinal que justificativa você me dá para um povo que precisa de união

Mas demonstra claramente

Infelizmente

Preconceitos mil

De naturezas diferentes

Mostrando que essa gente

Essa gente do Brasil é muito burra

E não enxerga um palmo à sua frente

Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente

Eliminando da mente todo o preconceito

E não agindo com a burrice estampada no peito

A “elite” que devia dar um bom exemplo

É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento

Num complexo de superioridade infantil

Ou justificando um sistema de relação servil

E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação

Não tem a união e não vê a solução da questão

Que por incrível que pareça está em nossas mãos

Só precisamos de uma reformulação geral

Uma espécie de lavagem cerebral

Não seja um imbecil

Não seja um ignorante

Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante

O quê que importa se ele é nordestino e você não?

O quê que importa se ele é preto e você é branco?

Aliás branco no Brasil é difícil porque no Brasil somos todos mestiços

Se você discorda então olhe pra trás

Olhe a nossa história

Os nossos ancestrais

O Brasil colonial não era igual a Portugal

A raiz do meu país era multirracial

Tinha índio, branco, amarelo, preto

Nascemos da mistura então porque o preconceito?

Barrigas cresceram

O tempo passou…

Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor

Uns com a pele clara outros mais escura

Mas todos viemos da mesma mistura

Então presta atenção nessa sua babaquice

Pois como eu já disse racismo é burrice

Dê a ignorância um ponto final:

Faça uma lavagem cerebral

Negro e nordestino constroem seu chão

Trabalhador da construção civil conhecido como peão

No Brasil o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou que lava o chão de uma delegacia

É revistado e humilhado por um guarda nojento que ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao negro ao nordestino e a todos nós

Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói

O preconceito é uma coisa sem sentido

Tire a burrice do peito e me dê ouvidos

Me responda se você discriminaria

Um sujeito com a cara do PC Farias

Não você não faria isso não…

Você aprendeu que o preto é ladrão

Muitos negros roubam mas muitos são roubados

E cuidado com esse branco aí parado do seu lado

Porque se ele passa fome

Sabe como é:

Ele rouba e mata um homem

Seja você ou seja o Pelé

Você e o Pelé morreriam igual

Então que morra o preconceito e viva a união racial

Quero ver essa musica você aprender e fazer

A lavagem cerebral

O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista

É o que pensa que o racismo não existe

O pior cego é o que não quer ver

E o racismo está dentro de você

Porque o racista na verdade é um tremendo babaca

Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca

E desde sempre não para pra pensar

Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar

E de pai pra filho o racismo passa

Em forma de piadas que teriam bem mais graça

Se não fossem o retrato da nossa ignorância

Transmitindo a discriminação desde a infância

E o que as crianças aprendem brincando

É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando

Qualquer tipo de racismo não se justifica

Ninguém explica

Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural

Todo mundo é racista mas não sabe a razão

Então eu digo meu irmão

Seja do povão ou da “elite”

Não participe

Pois como eu já disse racismo é burrice

Como eu já disse racismo é burrice

E se você é mais um burro

Não me leve a mal

É hora de fazer uma lavagem cerebral

Mas isso é compromisso seu

Eu nem vou me meter

Quem vai lavar a sua mente não sou eu

É você